- Professores mal formados e infraestrutura precária completam cenário
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RIO - Um programa curricular rígido, pouco atraente e desatualizado. Para especialistas, boa parte dos problemas no Ensino Médio brasileiro — indicador que mais contribui para frear o desenvolvimento humano em grande parte dos municípios do país — pode ser explicada pela falta de qualidade na educação e da distância do ensino em relação à realidade vivida pelos jovens.
Dados do IDH para os 5.565 municípios do país (IDHM), divulgados ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostram que na faixa etária entre 18 a 20 anos, 58,99% da população não tinham concluído o Ensino Médio.
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), prova internacional realizada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), já tinha mostrado, em 2009, um retrato pouco favorável ao país em uma comparação internacional. O Brasil ficou na 53ª posição entre 65 países, atrás de outras nações latino-americanas, como México, Uruguai e Chile, entre outras.
‘No fundo, há aulas chatas’
O Pisa mostrou um quadro de desigualdade regional. Pelo indicador, o Rio de Janeiro ocupa a oitava posição, bem próximo da média nacional, mas que, na comparação internacional, o classificaria atrás de Trinidad e Tobago, por exemplo. O Distrito Federal, que aparece no topo da classificação brasileira, tem a mesma pontuação que o Chile, o 44º colocado no ranking de todos os países. As disparidades também foram retratadas dos recentes dados do IDHM. O Distrito Federal lidera o ranking, e Alagoas aparece na última posição entre as unidades da federação quando se avalia a educação.
O pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) Simon Schwartzman adota um tom grave para falar da evolução dos indicadores de qualidade da educação. Para ele, a falta de qualidade experimentada em sala de aula resulta de uma combinação de professores mal formados e de infraestrutura precária de escolas no país.
— Estamos muito atrasados em termos de qualidade. Faltam conhecimentos mínimos em linguagem, matemática e ciências — diagnostica. — Existem alguns casos pontuais de escolas que conseguem bons resultados, mas que, quando somados, não mudam o quadro da educação como um todo. Eles são fruto muito mais de um esforço próprio dos diretores e professores do que de uma organização de esforços — acrescenta.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Francisco Soares, estudioso do tema, critica:
— Não se pode abrir mão da dimensão da qualidade. As pessoas estão entrando na universidade com currículos ridículos.
Mesmo entre os especialistas que veem avanços na educação nas últimas décadas, como Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os altos índices de repetência ainda mostram um quadro incômodo.
— No fundo, há aulas chatas, como pouca aplicabilidade, e a adolescência é uma idade chata — afirma.
Soares, da UFMG, considera que falta uma atuação mais forte da universidade na formação dos alunos que entram no Ensino Superior. Ele cita os casos de países do Hemisfério Norte e, diz que há possibilidade de formação complementar e aulas introdutórias em alguns cursos como um exemplo a ser seguido.
— A universidade não pode mais esperar que o aluno vá chegar prontinho. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, a universidade vai dizer se você precisa estudar uma determinada matéria, segundo a sua área de trabalho, e dar essa oportunidade.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito a Educação (rede que envolve ONGs, movimentos sociais, sindicatos, conselheiros de educação em 22 estados), Daniel Cara, defende uma reformulação do programa curricular, para que esteja mais próximo do novo jovem.
— Os jovens não conseguem se identificar no Ensino Médio. No Chile, União Europeia, Estados Unidos, em vários países, tentam compreender quem é o novo jovem. É preciso ter uma flexibilidade e não considerar que são todos homogêneos, como no atual Ensino Médio — diz Cara.
‘É preciso ouvir a sociedade’
Segundo Cara, o desafio adicional é incluir jovens e professores no debate desse novo modelo.
— Alguns dizem que ele precisa ser mais profissionalizante, mas antes de debater currículos, é preciso ouvir a sociedade. Até agora, a regra sempre foi implementar reformas curriculares de cima para baixo.
A comerciária Rose Monteiro, de 40 anos, moradora de Niterói — cidade classificada como de “alto nível de desenvolvimento humano” no IDHM, o melhor desempenho no estado — critica a realidade de muitas escolas públicas do município fluminense. Ela conta que foi incentivada pelos pais a estudar, mas não completou o Ensino Superior. Hoje, acompanha os estudos das sobrinhas.
— Eu estudei em colégio público e uma das minhas sobrinhas estuda hoje no mesmo colégio(Machado de Assis, no Fonseca). O ensino da cidade não é tão bom quanto este dado mostra, não. Minha sobrinha ficou quase dois meses sem professora de matemática.
http://oglobo.globo.com/economia/para-especialistas-ensino-medio-esta-distante-da-vida-de-jovens-9292020#ixzz2acRX2FqH
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