8 de fevereiro de 2016

A educação do caráter



O Globo, 8/2/2016

Uma pesquisa recente da UniCarioca, encomendada e divulgada pelo jornalista Antonio Gois, do GLOBO, trouxe dados preocupantes, que ensejam reflexão profunda de nós, educadores.
Ouvidos 1.100 alunos dos ensinos médio e superior, na faixa entre 16 e 30 anos, os resultados indicam uma corrupção generalizada em sala de aula: 69% dos alunos já colaram em provas, 68% copiam indevidamente textos da internet e 48% assinaram lista de presença em nome de colegas. O que é pior: para os alunos entrevistados, 61% dos professores não verificam esse tipo de comportamento.
Dois fatos saltam aos olhos, em uma primeira análise do resultado: o pouco caso de grande parte dos alunos com os mínimos princípios éticos, e a falta de empenho dos docentes para impor a disciplina em sala de aula. Cria-se, assim, uma cultura escolar perversa, na qual os professores fingem que ensinam, e os alunos fingem que aprendem. Dá para apostar no futuro dessa geração, com esse trágico exemplo vindo da escola, desde tão cedo?
Como reverter essa grave situação? Em primeiro lugar, é necessário rever os currículos dos cursos de Licenciatura, focando mais em atividades práticas de sala de aula, com base nas evidências científicas sobre as melhores práticas docentes. As disciplinas precisam trabalhar melhor o lado comportamental dos futuros professores, ensinando-os a ensinar, de forma que consigam motivar os alunos, despertando neles a natural curiosidade e a vontade de aprender. Sem profissionais com essa competência, as aulas ficam desinteressantes, geram desmotivação e levam ao desleixo com as avaliações.
Em segundo lugar, é preciso disseminar entre os docentes as ferramentas que existem para coibir a cópia de trabalhos na internet. Aplicando-se um software de reconhecimento de padrões, pode-se inibir a fraude facilmente. Muitos desses softwares são gratuitos, e estão disponíveis para download pela internet.
Por fim, as escolas devem incentivar a criação e adoção de códigos de ética, aproveitando para explicar aos alunos a importância de formular e cumprir regras que defendam o interesse coletivo. Muitas universidades americanas já possuem seus códigos de ética, voluntariamente assinados pelos seus alunos ingressantes.
Nesse momento de crise política, econômica e institucional em que vive o país, nossos professores podem e devem dar o exemplo, cobrando atitudes éticas dos alunos, e despertando neles o prazer em adquirir novos conhecimentos. A avaliação deve ser entendida pelos alunos como processo natural da aprendizagem, e não como algo em que se pode “dar um jeitinho”, bem à brasileira. E o bom comportamento deve ser incentivado, como parte fundamental da formação do caráter dos futuros cidadãos. Como se diz corriqueiramente, se “o exemplo deve vir de casa”, é da escola que deve vir também o exemplo de uma vida ética, produtiva e feliz.

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