15/02/2016
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou na semana passada um relatório sobre alunos com baixo desempenho no Pisa, exame organizado pela entidade e que compara a qualidade do ensino em 65 países. No Brasil, as poucas reportagens sobre o assunto destacaram que o país melhorou, mas continuava entre os piores, com um dos mais altos percentuais de alunos nos níveis mais baixos de aprendizado em matemática, linguagem e ciências. Esta é realmente uma das conclusões do relatório, mas ele é bem mais amplo do que isso. A OCDE analisa o perfil dos alunos de baixa performance e faz recomendações importantes para não deixar que eles fiquem para trás.
Para ajudar no entendimento do que significa ser um aluno de baixa performance, o relatório dá um exemplo de uma questão do Pisa, em que alunos de 15 anos têm que fazer a conversão do câmbio de uma moeda para a outra, bastando aplicar uma simples regra de três para obter a resposta certa. Na média da OCDE, 80% dos alunos acertaram a questão. No Brasil, foram apenas 37%. O percentual de alunos com baixo desempenho é tão alto no Brasil que, mesmo entre os estudantes cujas famílias estão entre as 25% mais ricas do país, há 45% de jovens nos níveis mais baixos da escala de aprendizado. Entre os mais pobres, a proporção cresce para 85%.
Veja, na tabela abaixo, como a proporção de alunos de baixa performance é alta no Brasil em todos os níveis socioeconomicos.
O relatório constata, sem surpresa, que a pobreza tem impactos negativos no aprendizado. Não ter tido acesso à pré-escola ou ter repetido de ano também eleva significativamente a probabilidade de um aluno estar nesse grupo. Outra conclusão que confirma o que já foi verificado em outros estudos _inclusive no Brasil_ é que a proporção de alunos com baixo desempenho é maior em escolas com pior infraestrutura e onde professores faltam mais e têm baixa expectativa em relação aos seus estudantes. Nessas escolas, o professor tende também a dar menos atenção a cada aluno, insistir menos para garantir que todos aprendam, e ainda dá pouco espaço para que eles expressem suas opiniões.
Um dado que surpreendeu os pesquisadores do relatório foi que alunos de baixo desempenho relatam se esforçar tanto para aprender ou estudar para as provas quanto os de alto rendimento. O que diferencia esses dois grupos é a menor confiança dos estudantes de pior desempenho em relação aos resultados que terão. Isso sugere que não adianta aumentar o número de tarefas dadas para esses jovens se eles não tiverem mais apoio.
Num país como o Brasil, com taxas ainda absurdas de repetência e com alta desigualdade no acesso a escolas de qualidade, algumas recomendações são ainda mais apropriadas. Uma delas é reduzir a reprovação, que não traz ganho algum para o aluno. Outra é aumentar o acesso à pré-escola, tarefa que estamos conseguindo fazer, ainda que em ritmo lento.
A OCDE destaca também que é preciso diminuir a segregação no acesso às melhores escolas. O relatório identifica que colégios com alta concentração de alunos mais pobres elevam o risco de fracasso e dificultam o trabalho do professor. E destaca também que os países com maior proporção de alunos com alta performance são aqueles que promovem mais mistura de alunos de diferentes níveis socioeconômicos em suas escolas. Para a OCDE, isso significa que “sistemas que distribuem de forma mais igualitária seus estudantes e recursos educacionais entre escolas beneficiam alunos de baixa performance sem prejudicar aqueles de alto desempenho”.
Veja a íntegra do relatório aqui. No próximo post, há um resumo das principais recomendações traduzidas.
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