16 de fevereiro de 2016

Desigualdade social freia os avanços na Educação


Editorial: Desigualdade social freia os avanços na Educação

16 de fevereiro de 2016
"O baixo desempenho do aluno cria um círculo vicioso que leva ao desinteresse, repetência e evasão, o que repercute no mercado de trabalho", afirma jornal

Fonte: Valor Econômico (SP)



A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acaba de divulgar um novo relatório sobre Educação com boas e más notícias para o Brasil. O estudo sobre estudantes de baixo desempenho constatou que o país é um dos nove que reduziram o número de jovens com maus resultados em matemática entre 64 nações analisadas entre 2003 e 2012.
O esforço, no entanto, não foi suficiente para tirar o Brasil do segundo posto em número de estudantes com baixo desempenho simultaneamente em matemática, leitura e ciências, após a Indonésia. O estudo também constatou que o Brasil está entre os dez países em que a desigualdade social mais influencia a performance dos estudantes - sinal pouco animador para o futuro.
Elaborado com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o estudo examinou o desempenho de 15,1 milhões de estudantes com 15 anos. Dos 2,7 milhões de Alunos brasileiros avaliados, 1,9 milhão tinha dificuldades em matemática básica, 1,4 milhão em leitura e 1,5 milhão em ciências; e 1,1 milhão tropeça nas três disciplinas. O resultado contrasta com o fato de o Brasil ser o terceiro país que mais investe em Educação em um grupo de 38 países, com 4,7% do PIB, após o México e a Nova Zelândia, também de acordo com a OCDE.
Como nem sempre o dinheiro explica tudo, o estudo da OCDE busca analisar porque esses estudantes "ficam para trás" e como podem ser ajudados. O baixo desempenho cria um círculo vicioso que leva ao desinteresse, repetência e evasão, o que agrava os problemas e repercute no mercado de trabalho, na produtividade e na competitividade dos países.
Vários são os motivos apontados pela OCDE para justificar as notas ruins dos estudantes e provavelmente um dos mais desafiadores é o que mais prejudica os resultados do Brasil: o impacto da desigualdade social na Educação. O Aluno mais pobre não só tem menor chance de concluir o estudo na idade certa, não importa sua capacidade cognitiva, mas também enfrenta várias obstáculos ao longo da vida Escolar.
Para a diretora do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, em entrevista ao Valor (2/2), "ter uma renda baixa significa para o Aluno uma situação de pobreza, de vulnerabilidade, de violência, de falta de livros, de falta de lugar para estudar, vocabulário empobrecido (...), mais tempo no transporte Escolar, alimentação pior". A situação se agrava se o Aluno for negro, mulher, morar na zona rural ou na periferia das grandes cidades.
Levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014 confirma essas informações. O MDS apurou que a Escolaridade média do jovem de 15 anos é de 6,3 anos no segmento 20% mais pobre da população e salta para 10,8 anos entre os 20% mais ricos.
Reportagem do Valor constatou que o país vem progredindo na redução da desigualdade na Educação, mas os resultados ainda deixam a desejar. Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é fazer com que todos os estudantes concluam o Ensino fundamental até os 16 anos em 2024. Entre os 20% mais pobres, apenas 58,4% cumpriam essa meta em 2014, mais do que o dobro dos 21,6% de 2001. Mas entre os 20% mais ricos a meta está bem próxima, com 92% em 2014 em comparação com 80,2% em 2001.
A Base Nacional Comum Curricular pode contribuir para reduzir a desigualdade uma vez que vai uniformizar programas, conteúdos e práticas didáticas. As propostas do governo estão em audiência pública desde o fim de 2015 e as sugestões devem ser avaliadas em meados do ano. Milhares de alterações já foram sugeridas. As críticas mais severas foram dirigidas ao conteúdo proposto para a História no Ensino médio por praticamente excluir a antiguidade. Foram apontados problemas também nos currículos sugeridos para Matemática e Português.
O Bolsa Família certamente ajuda na melhoria desses números uma vez que colabora para reduzir a desigualdade; e a OCDE encontrou iniciativas semelhantes em outras partes do mundo como Portugal, que oferece refeições nas Escolas, e Chile, que injeta investimentos extras nas Escolas de locais mais pobres. A solução, como aponta a OCDE, depende de um conjunto de medidas como o apoio às famílias, aos estudantes e às Escolas em desvantagens não só estritamente financeiro, mas também pelo desenvolvimento de políticas públicas adequadas.  

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