O sistema de cotas raciais para alegadamente aumentar a diversidade étnica e social na universidade e ainda combater desníveis entre brancos, negros e índios terminou validado pelo Supremo em 2012, mas é natural que a discussão sobre a validade do instrumento continue.
Até porque, na terra do desenvolvimento das chamadas “ações afirmativas” — cotas uma delas —, os Estados Unidos, o debate é incessante. A cotas baseadas no conceito nada científico de “raças” são coerentes com a formação racialista da sociedade americana.
O governo Trump, ao deixar que aflorassem movimentos supremacistas, racistas, tem permitido ao mundo perceber a grande importância que tem a “raça” em várias regiões dos Estados Unidos.
Para enriquecer a discussão, o jornal “New York Times” acaba de publicar ampla pesquisa própria feita para descobrir o que aconteceu, num período de 35 anos, de 1980 a 2015, com os grupos de estudantes brancos, asiáticos, hispânicos e negros em termos de representatividade na população em idade universitária.
Pois, com todas as políticas ditas afirmativas, concluiu o levantamento que o peso de hispânicos e negros, nessas três décadas e meia, caiu entre esta população, enquanto a de brancos e asiáticos subiu. Deve causar perplexidade na militância racialista.
O trabalho do NYT abrangeu 100 universidades, de instituições públicas clássicas a estabelecimentos da elite do ensino superior americano, da chamada “Ivy League” (Harvard, MIT etc.). Nestas, o peso dos negros matriculados no primeiro ano das escolas, caiu, em 35 anos, seis pontos percentuais em relação ao total da população em idade universitária como um todo. Os hispânicos retrocederam sete pontos percentuais.
Na Universidade da Califórnia houve o mesmo: negros, quatro pontos de queda; hispânicos, 17, o que também surpreende por ser um estado com muitos latinos. O quadro se repete em outros estabelecimentos de ensino superior.
Entrevistado, o vice-presidente do Conselho Americano de Educação, Terry Hartle, que representa 1.700 faculdades e universidades, acrescentou que negros e hispânicos só ganharam espaço em escolas menos seletivas.
A explicação está na qualidade inferior das escolas primárias e secundárias em que estudam. Quer dizer, a qualidade do ensino básico é o fator decisivo para a maior presença de negros, latinos ou qualquer outra etnia em universidades de ponta.
As ações afirmativas americanas, durante 35 anos, não conseguiram realizar o sonho de militantes da absoluta democratização “racial” do ensino de qualidade. Reforça-se a constatação de que não há ação afirmativa melhor para pobres de qualquer etnia do que um ensino básico de qualidade. O resto é ideologia.
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