13/9/2017, Folha de S.Paulo
Você pode treinar seu cérebro e se tornar mais inteligente.
Essa é a mensagem de um programa educacional simples e barato, chamado "Expande tu mente", que o governo Peru tem testado em suas escolas com impacto relevante na aprendizagem de alguns alunos.
O projeto se baseia em pesquisas feitas nas últimas décadas por especialistas como Carol Dweck e Lisa S. Blackwell que mostram que a inteligência não é um ativo fixo e inalterável.
Quem acredita que pode desenvolver mais habilidades tem maiores chances de atingir seus objetivos, segundo esses estudos.
Partindo dessa premissa, o programa —que tem apoio do Banco Mundial, da Universidade de Oxford e do grupo peruano de pesquisa Grade— consiste em uma única sessão na qual os alunos de ensino médio recebem um artigo curto chamado "Sabias que puedes hacer crecer tu inteligencia?"
O texto explica, de forma amigável e com ilustrações, como a nossa capacidade cognitiva é maleável, como o cérebro funciona e como as conexões entre suas células nervosas crescem e se fortalecem à medida que aprendemos coisas novas.
Em seguida, a classe discute o artigo com o professor encarregado pela monitoria. Um cartaz para que os alunos se lembrem constantemente do que leram é pendurado na sala de aula.
E, no fim, cada estudante escreve uma carta contando para um familiar ou amigo o que aprendeu sobre o assunto e dando conselhos.
Segundo o Banco Mundial, o programa-piloto —que começou a ser testado em 2015— gerou um impacto positivo nas notas dos alunos, que, em média, equivaleria ao que seria conseguido por um aumento de dois a três anos na escolaridade de seus pais.
Esse tipo de comparação costuma ser usada porque há farta evidência de que o número de anos de estudo dos pais tem forte relação causal com o desempenho acadêmico dos filhos.
Embora o aumento da escolaridade da população adulta seja desejável, por inúmeros motivos, trata-se de um processo demorado. Não daria para contar só com isso como estratégia para melhorar a aprendizagem das crianças no curto prazo.
O que o governo do Peru está tentando fazer é justamente identificar soluções efetivas, escaláveis, com uma boa relação entre custo e benefício, que ajudem o país a melhorar a qualidade da educação em um horizonte mais próximo de tempo.
Criou para isso uma espécie de laboratório de inovações educacionais (MineduLAB) que se associa a pesquisadores da área para implementar, testar e mensurar novas iniciativas.
Foi nesse contexto que o "Expande tu mente" foi implantado em um grupo grande de escolas de três regiões do país e seus resultados, aferidos em um teste de aprendizagem nacional comparados posteriormente com os de outras instituições que não receberam a intervenção.
Segundo um relatório divulgado há duas semanas pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), as poucas iniciativas em países em desenvolvimento que buscam motivar os alunos e tiveram sua efetividade mensurada apresentaram efeito positivo sobre a aprendizagem.
Esse tipo de programa tem a vantagem de ser relativamente barato.
O estudo da instituição, cujo foco são as políticas públicas para o desenvolvimento de habilidades, ressalta que o "Expande tu mente" teve um custo de apenas US$ 0,1 por cada ponto a mais de aprendizagem dos alunos em testes padronizados. Iniciativas mais populares como reduzir o tamanho da classe e expandir a jornada escolar, diz o BID, custam, respectivamente, US$ 47 e US$ 210 por cada ponto a mais de aprendizagem gerado.
Num website que acabou de lançar, o BID fornece um resumo da evidência internacional da efetividade de diversas políticas educacionais, com foco em distintos objetivos e faixas etárias.
A mensagem da instituição multilateral para os formuladores de políticas públicas é clara, direta: não adianta aumentar os recursos investidos em educação sem mensurar, de forma bem-feita, com critérios e metodologia apropriados, os resultados de suas iniciativas.
É preciso saber se os tiros que damos têm atingido seu alvo e a que custo.
A julgar pelos resultados ainda decepcionantes da região em testes internacionais de aprendizagem, a despeito do aumento dos nossos gastos em educação nos últimos anos, essa mensagem ainda não parece ter sido bem apreendida. Mas iniciativas como a do governo peruano são um alento.
No mais, para quem lida com crianças, os resultados preliminares do "Expande tu mente" indicam que vale muito a pena explicar para elas, de forma simples, que elas conseguem aprender, podem melhorar, são capazes de desenvolver talentos se treinarem para isso.
É uma atitude simples que, na correria do dia a dia, dificilmente entra no nosso radar.
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