País gastou quase o mesmo que os países desenvolvidos, mas gastou mal,
como evidenciam as altas taxas de repetência e evasão
O Estado de S.Paulo
15 Setembro 2017 | 03h06
O relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre os gastos do Brasil com educação revela um problema bastante conhecido: a tendência do País de investir mais no ensino superior do que no ensino fundamental.
O estudo analisa os sistemas educacionais dos 35 países que integram a OCDE – a grande maioria desenvolvidos – e de 10 outros países em desenvolvimento, como China e África do Sul. Segundo o estudo, cujos dados se referem a 2014 e 2015, os gastos com educação totalizaram 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, enquanto a média dos países da OCDE foi de 5,2% do PIB, no período. Em outras palavras, o Brasil gastou em educação quase o mesmo que os países desenvolvidos, mas gastou mal, como evidenciam as altas taxas de repetência e evasão.
O estudo revela que entre 2014 e 2015 a despesa média do Brasil com estudantes universitários foi de US$ 11,7 mil por ano – um valor próximo do que foi gasto pela Itália (US$ 11.550), Estônia (US$ 12.300) e Espanha (US$ 12.489). Entre os países da OCDE, a média geral foi de US$ 16.143. Já com os alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental, o gasto médio do Brasil foi de US$ 3.800 por ano, o que representa menos da metade do valor médio desembolsado por ano pelos países da OCDE, que foi de US$ 8.700 no período analisado.
Dos países vinculados a essa organização, o que mais investiu em ensino fundamental foi Luxemburgo, com um gasto médio anual de US$ 21,2 mil por aluno. Entre os países analisados pela OCDE, apenas seis gastaram menos do que o Brasil com alunos na faixa etária de dez anos. Na América Latina, a Argentina gastou US$ 3.400; o México, US$ 2.900; e a Colômbia, US$ 1.500.
Por gastar três vezes mais com estudantes universitários do que com alunos do ensino fundamental e ensino médio, o Brasil tem tido sérios problemas. Os alunos do ensino médio, por exemplo, recebem uma educação de má qualidade em matérias fundamentais, o que tem sido evidenciado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) – um teste da OCDE que mede conhecimentos de estudantes na faixa de 15 anos nas áreas de ciências, matemática e compreensão escrita. Nos últimos anos, os estudantes brasileiros têm ficado entre os últimos nesse mecanismo de avaliação.
Por causa das graves deficiências de formação, quando esses alunos ingressam no ensino superior, a maioria apresenta um baixo aproveitamento escolar – o que também tem sido reiteradamente apontado pelos estudos comparativos de organismos multilaterais. Por fim, ao gastar mais com estudantes universitários do que com estudantes do ensino fundamental, o Brasil mantém um cenário de injustiça social, já que apenas 17% dos jovens entre 25 e 34 anos formam-se numa faculdade, segundo o levantamento da OCDE.
Além de apontar prioridades equivocadas, como o gasto maior com o topo do que com a base da pirâmide educacional, o estudo mostra a inépcia da gestão do sistema escolar brasileiro. Nesse sentido, basta compará-lo com o desempenho das escolas e universidades de um país emergente, como a Coreia do Sul. Com um gasto médio por aluno do ensino fundamental ligeiramente superior ao do Brasil, a Coreia do Sul ficou entre os primeiros lugares nos rankings do Pisa, entre 2014 e 2015. E, com um gasto médio US$ 2.100 menor do que o gasto do Brasil por estudante universitário, a Coreia do Sul destacou-se pela alta qualidade de suas universidades, principalmente em matéria de desenvolvimento de pesquisas e de inovação tecnológica.
O estudo da OCDE é mais uma amostra do quanto a educação brasileira foi mal gerida nos últimos anos. E aponta os desafios que o próximo governo terá de enfrentar, redistribuindo recursos do ensino superior para o ensino fundamental e implementando a reforma do ensino médio que foi aprovada em maio.
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