SÃO PAULO - Todos os dias, 30 crianças e adolescentes são assassinados no Brasil. Em 2015, foram registrados 10,9 mil homicídios com menores de 19 anos, segundo dados do departamento de informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). Essa população corresponde a praticamente um quinto de todas as vítimas de homicídio no país.
As conclusões fazem parte do relatório "A Criança e o Adolescente nos ODS", divulgado nesta terça-feira pela Fundação Abrinq. A pesquisa analisa o cumprimento dos objetivos de desenvolvimento sustentável propostos pela ONU para os 193 países signatários, como o Brasil, até 2030. O objetivo 16 trata de "paz, justiça e instituições eficazes".
Usando como base dados públicos, o relatório da Fundação Abrinq aponta que o número de crianças e adolescentes assassinados mais do que dobrou em 15 anos. Se em 1990 haviam sido registrados cerca de 5 mil mortes violentas de menores de 19 anos, em 2015 foram quase 11 mil.
Com uma taxa de 4,3 homicídios por 100 mil habitantes, o Brasil é o terceiro país mais violento para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos em uma lista de 85 nações. Em números absolutos, o Brasil é o segundo país com maior quantidade de crianças e adolescentes assassinados, ficando atrás apenas da Nigéria.
"As vítimas têm cor, classe social e endereço. São em sua maioria meninos negros, pobres, que vivem nas periferias e áreas metropolitanas das grandes cidades", afirma o relatório da Fundação Abrinq. O texto cita outro estudo, "Homicídios na Adolescência no Brasil: 2014", para afirmar que o risco de um adolescente negro morrer por homicídio é quase três vezes superior ao dos adolescentes brancos.
Comparando-se apenas números absolutos, Bahia é o estado com o maior número de vítimas de assassinato menores de 19 anos: 1.233. Na sequência, estão Rio de Janeiro (1.002), Ceará (900), São Paulo (839) e Minas Gerais (861).
O estudo da Fundação Abrinq chama a atenção para os riscos de crianças e adolescentes que vivem imersos em um contexto social de conflito, em que "a violência prepondera como modus operandi", diz o texto.
"Desde a violência doméstica a conflitos armados podem marcar o processo de desenvolvimento comportamental, emocional e psicológico de crianças e adolescentes. As consequências ainda podem marcar de maneiras nefastas e distintas a trajetória individual de meninos e meninas, que podem culminar no envolvimento desses com o 'mundo do crime' ou desencadear uma série de episódios de ansiedade, depressão, agressividade ou até severos traumas psicológicos nesses indivíduos quando adultos", afirma o relatório.
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