12 de dezembro de 2017

Escolas separam melhores alunos e 'criam resultados' no Enem


Marcel Rizzo/Folhapress
Fachada de unidade do colegio Farias Brito, em Fortaleza, um dos melhores no Enem Crédito: Marcel Rizzo/Folhapress DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Fachada de unidade do colégio Farias Brito, em Fortaleza, um dos melhores no Enem
Motivo de críticas em divulgações anteriores dos dados do Enem por escola, unidades com poucos alunos no 3º ano, e cujas aulas ocorrem dentro de unidades maiores, registram as maiores médias também no exame de 2016.
Os resultados segregados deste ano foram levantados pela Folha partir da tabulação dos dados brutos fornecidos pelo MEC (Ministério da Educação).
Em um ranking sem levar em conta o porte da escola, seis das dez maiores médias são de escolas com menos de 50 participantes na prova. As duas maiores médias, do Colégio de Aplicação Farias Brito (CE) e do Objetivo Integrado (SP), tiveram 34 e 44 alunos na prova, respectivamente.
O Farias Brito, tradicional grupo educacional do Nordeste, trata o Colégio de Aplicação como uma escola independente. Mas na prática, são turmas formadas com os melhores alunos de outras unidades, selecionados desde o 6º ano.
Os funcionários têm dificuldade de indicar onde ficaria a escola de aplicação e no site não há informações. Mas um anúncio sobre o resultado está lá: "1º do Brasil no Enem. É o MEC que diz".
Ao todo, nessa unidade, são 223 alunos, com duas turmas nos 1º e 2 º anos do ensino médio, e uma no 3º. Ou seja: estudantes com nota ruim passam a não fazer parte no 3º ano."Esses jovens são beneficiados porque estão dentro do centro universitário, utilizam os laboratórios, alguns professores são os mesmos. Somos procurados por jovens de todo o Brasil", disse Tales de Sá Cavalcante, 67, diretor-geral da organização.
As notas dos 44 alunos registrados na unidade de aplicação garantiram uma média de 743,42 na parte objetiva, a mais alta do país. Já as outras quatro unidades do Farias Brito, também em Fortaleza, têm notas inferiores.
A maior unidade do grupo, o Colégio Central Farias Brito, com 388 alunos no Enem 2016, teve média 603,22. O que deixa a unidade na 452ª posição no ranking que leva em conta apenas escolas com mais de 61 alunos.
Pioneiro nessa estratégia, o Objetivo criou a unidade Integrado em 2010. O endereço é o mesmo da escola tradicional, na avenida Paulista.
Com as notas dos 44 alunos que fizeram a prova em 2016, a média foi de 743,21. Sem nenhuma filtro, é a segunda maior do país. A escola segue o mesmo rito: turmas com bons alunos são formadas no 1º ano, mas só uma classe chega ao 3º ano.
Segundo o diretor, José Augusto Nasser, isso foi uma demanda de alunos com foco nos em vestibulares difíceis.
"Quando faz um colégio com uma completa diferenciação, com aulas à tarde, é algo totalmente diferente. A ideia não foi para ser primeiro lugar do Enem", afirma Nasser. "O número de alunos diminui porque nem todos aguentam o ritmo".
O diretor questiona o resultado dos dados oficiais. Três participantes estão cadastrados no Enem 2016 com sendo da escola, mas não constam como matriculados no 3º ano. "Com a média só dos nossos 41 concluintes, ficamos em primeiro".
Com 331 alunos na prova, o Objetivo Unidade Paulista teve média de 620,89. O que a coloca na 199ª entre as escolas com mais de 61 alunos.
Levando em conta esse critério de porte de escola, o melhor desempenho foi alcançada pelo Colégio Bernoulli (MG). Os 312 alunos tiveram média de 730,6 nas objetivas e 843,6 na redação.
"Qualquer escola é muito mais complexa e abrangente do que o resultado do Enem, mas ele tem valor porque consegue dizer como a turma está em termos dos conhecimentos que são cobrados", diz o diretor, Rommel Domingos.
BALANÇO DO ENEM 2016Desempenho de todas as escolas do país com 61 alunos ou mais no terceiro ano do ensino médio
PANORAMA
Ocimar Alavarse, professor da USP, diz que é importante lembrar que a média da escola não representa necessariamente o aluno individualmente. "Esse ordenamento dá uma ideia da distribuição do conhecimento na sociedade e também que o nível socioeconômico continua atuando".
Entre as escolas com nível socioeconômico abaixo do "médio", a mais bem colocada aparece na 950ª posição. É o Colégio Estadual Chico Anysio, do Rio.
Na capital paulista, a pública mais bem colocada é a Etesp (Escola Técnica São Paulo), com alunos de perfil socioeconômico "muito alto".
A média foi de 652,75 na parte objetiva, a 87ª no país. A unidade não é gerida pela Secretaria Estadual de Educação, mas pelo Centro Paula Souza. "Nossos alunos já chegam preparados e respondem bem ao processo educacional, que procura ser mais crítico dentro dos componentes curriculares", diz Natalia Caruso, umas das coordenadoras da escola.

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