26 de janeiro de 2013

Na era do celular no bolso, reter a informação é tarefa diabólica



RONALDO LEMOSCOLUNISTA DA FOLHA de S.Paulo, 26/1/2013
Em 2004, a revista de tecnologia "Wired" anunciava a chegada da era da "transparência radical". Se você tem um segredo, seja como empresa, governo ou indivíduo, a chance é de que ele, cedo ou tarde, torne-se público.
Em um mundo em que as pessoas vão ao trabalho carregando no bolso capacidade de armazenamento de vários gigabytes em seus smartphones, segurar a informação é tarefa diabólica.
Sabendo disso, governos autoritários e mesmo democráticos têm usado várias estratégias para coibir os "whistleblowers": integrantes do próprio governo que vazam informações privilegiadas.
Uma delas é a militarização dos casos de vazamento. Foi o que aconteceu com o ex-agente da CIA John Kiriakou.
Ele foi processado inicialmente com base na Lei de Espionagem, criada em 1917 após a Primeira Guerra, que prevê pena de morte ou prisão perpétua. Isso forçou Kiriakou a fazer acordo com a Promotoria: aceitou declarar-se culpado por outra lei mais branda e foi condenado a dois anos e meio de prisão.
Só que Kiriakou é chamado de herói por muitos ativistas de direitos humanos, ao expor práticas de tortura.
Além da militarização, os EUA e outros governos vêm recorrendo a bodes expiatórios. Desde 2009, cinco outros servidores foram punidos pela gestão Obama.
Isso desestimula novos "whistleblowers", dificultando a atuação da imprensa e criando redutores de velocidade para a alardeada "era da transparência".
Casos como esse acabam jogando uma bomba de fumaça na questão crucial, muitas vezes esquecida: governos não devem ter expectativa de privacidade. Exceto em casos muito excepcionais, a regra deve ser efetivamente a transparência.
Mesmo que seja radical.

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