26 de janeiro de 2013

Homicídios sobem 34% na capital em 2012



Aumento de 15% no Estado interrompeu 2 anos seguidos de queda e foi puxado pelos índices da cidade de São Paulo
Quase todos os crimes tiveram alta, entre eles estupro (24%) e latrocínio (8%); roubo a banco caiu 12%
AFONSO BENITESDE SÃO PAULO,Folha de S.Paulo
O Estado de São Paulo registrou uma alta de 15% nos índices de homicídios no ano passado em relação a 2011.
De janeiro a dezembro, ocorreram 4.833 casos, com 5.206 vítimas -em uma ocorrência pode haver mais de um morto. O aumento foi puxado pela capital, que teve 1.368 casos, com 1.497 vítimas -34% a mais que 2011.
Com esse incremento, São Paulo atingiu a taxa de 11,5 casos por 100 mil habitantes e se distanciou de sua meta: ter índice inferior a 10. Ainda assim, tem uma das menores taxas do país.
O aumento também fez com que São Paulo interrompesse dois anos seguidos de quedas nos índices de assassinatos e atingiu a maior taxa desde 2007, quando foram registrados de 11,89 casos por 100 mil habitantes.
Os dados divulgados ontem pela Secretaria da Segurança Pública mostram que houve aumento dos homicídios em 8 dos 12 meses de 2012.
A intensificação dos crimes ocorreu no último trimestre e foi puxado pela capital. Nesse período, a cidade registrou 450 dos 1.502 casos de homicídios de todo o Estado.
Em novembro, quando o governo identificou que os índices não se revertiam, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) substituiu o secretário Antonio Ferreira Pinto por Fernando Grella Vieira.
OUTROS CRIMES
Quase todos os crimes apresentaram alta no ano passado no Estado. As maiores foram nos casos de estupro (24%), roubo de veículos (10%) e roubo seguido de morte (8%). Roubo e furto ficaram estáveis, enquanto roubo a banco teve uma queda de 12%.
Para a diretora da ONG Instituto Sou da Paz, Melina Risso, a alta da criminalidade mostra que o governo estava adotando uma "política de segurança equivocada".
"Houve um período com alta violência policial e baixo investimento na inteligência. Com a troca de secretário, isso parece estar mudando", disse. "Violência não pode ser combatida com mais violência."
Ontem, a secretaria informou que nenhum representante da pasta iria comentar os dados. Em outras ocasiões o secretário Grella e o comandante-geral da PM, o coronel Benedito Meira, afirmaram que o ano de 2012 foi atípico.
À Folha, no início do mês, Meira disse que a crise ocorreu em razão das mortes dos policiais militares. Mais de cem PMs da ativa e da reserva foram mortos em 2012.
Para o coronel Meira, "houve uma articulação entre criminosos" em razão da ação efetiva da polícia.
O ano passado também registrou alta nos casos de mortos em supostos confrontos com policiais militares. Conforme os dados, 547 pessoas morreram nessa situação em 2012. No ano anterior, tinham sido 438. Diferença de 25%.


 preciso mais do que os mesmos discursos para mudar a situação
MARCOS FUCHSESPECIAL PARA A FOLHAUma morte choca, mais de cem vira índice. Como não oscilar entre euforia e depressão toda vez que a Secretaria da Segurança divulga a triste conta que a violência nos passou?
A cultura da agressão, policial ou não, como forma preferencial de resolver impasses na cidade ainda levará gerações para mudar. Até lá, consumirá muitos de nossos filhos.
Nenhum retrato fugaz dos números de homicídios, latrocínio, estupro, furto e roubo a banco é suficiente para capturar a essência do tempo em que vivemos -em que a cidade endurece em seu espaço público e em suas relações.
Precisamos de mais do que números para explicar o estado em que vivemos. Assim como precisamos muito mais do que os mesmos discursos de sempre para mudar.
A recente troca de cargos na Secretaria da Segurança afastou os temores mais imediatos de uma política criminosa de extermínio. O fim dos "autos de resistência", que mascaravam execuções cometidas pela polícia, também.
Há sinais de que as coisas podem mudar. Mas, para isso, são necessários passos ainda mais corajosos do poder público, como priorizar a investigação em vez de simplesmente lançar maus policiais em cima de pessoas "em atitude suspeita" nos bairros pobres.
E, quando tudo o que está à vista da classe média for feito, restará ainda o mais difícil: encarar de frente a violência oculta que atinge diretamente 500 mil pessoas no Brasil, 40% delas em São Paulo, que é a longa lista de crimes brutais cometidos todos os dias num sistema carcerário que discrimina, tortura, mata e não regenera ninguém, refletindo diretamente nesses números redondos apresentados ontem que, por piores que sejam, ainda assim, acredite, refletem o "menos pior" da nossa crueldade.
MARCOS FUCHS é diretor-adjunto da ONG Conectas Direitos Humanos

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