Missão impossível? Você ficaria 48 horas longe dos eletrônicos? Veja a experiência de quem topou esse desafio

GABRIELA VALDANHADE SÃO PAULOREBECCA VICENTECOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, 16/8/2014
É possível passar um final de semana sem computador, celular, tablet e TV?
A "Folhinha" lançou esse desafio para três crianças paulistas, habituadas a utilizar a tecnologia para estudar, se divertir com jogos e músicas e se comunicar com os amigos.
Giovanna Cantadeiro, 12, João Victor Gilbertone, 11, e sua irmã, Vitória, 6, teriam que deixar todos esses aparelhos de lado por 48 horas seguidas. O que aconteceu?
"Não faria de novo. Fiquei perdida, meus amigos combinam tudo pelo Facebook", disse Giovanna (a rede social não cadastra oficialmente menores de 13 anos, mas muitos entram alterando a idade).
Moradora de Guarulhos (Grande SP), ficou o fim de semana "offline" (sem internet e telefone) e, ao ligar o celular, na segunda, tinha mais de cem mensagens.
Segundo pesquisa de 2013 da Safernet (que estuda segurança na internet), 46% (quase metade) das crianças brasileiras de 9 a 12 anos entram na internet todo dia. Estudo do site ClickJogos, feito neste ano com meninos e meninas de 8 a 12, aponta que 34% (um a cada três) passam de duas a quatro horas por dia em jogos online.
Para o psicólogo André Trindade, é preciso tomar cuidado com o tempo gasto nos aparelhos. "Crianças não devem deixar de brincar para ficar no computador. O corpo precisa se exercitar", afirma.
Maria Belintane Fermian, doutora em educação pela Unicamp, vê aspectos bons na tecnologia, como jogos em grupo que fazem com que uma criança apoie outra. Mas alerta: "O excesso faz a criança dormir mais tarde e ficar ansiosa".
João Victor, de São Paulo, achou difícil ficar longe dos aparelhos. "Fiquei entediado. Fui checar meu Facebook e escutar músicas no tablet ", conta.

Entediado, menino desiste de ficar longe do tablet e da TV

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Nos fins de semana, costumo ficar no computador, escutar música no tablet, ver vídeos. Também jogo games online com meus amigos", diz João Victor, 11, que topou tentar ficar 48 horas sem nenhuma dessas tecnologias.

Nesses dois dias longe das telas, jogou futebol com os vizinhos, fez desenhos no caderno e até patinou no gelo em uma pista num shopping. Deu tempo também para jogar dominó com a avó e fazer um piquenique com a família.

"Achei legal. Não são coisas que faço sempre", conta o garoto. Mas, mesmo com a agenda cheia de atividades diferentes, ele não conseguiu deixar de checar mensagens nas redes sociais e de escutar música. "Fiquei entediado. Tive que usar o tablet."

A paixão pelo futebol também falou mais alto. "Meu pai estava assistindo ao jogo do Palmeiras na TV, vi o fim da partida com ele."

A irmã do garoto, Vitória, 6, também entrou na brincadeira. Mas, assim como João, não aguentou ficar longe dos games. "Passei o dia brincando, mas não sabia mais o que fazer à noite", conta. "Sem TV, sem computador. Isso é chato!", reclamou a menina.

(RV)

Sem internet, garota brinca, lê livro e dorme cedo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Giovanna, 12, costuma passar o dia inteiro conectada. "Logo cedo, já ligo o celular, o computador e a TV. Principalmente o [aplicativo de celular] WhatsApp, para falar com meus amigos", diz.

Quando aceitou o desafio de ficar um fim de semana inteiro desconectada, seu maior maior medo era sentir falta do smartphone. Seria a primeira vez que ficaria sem celular desde os nove anos, quando ganhou seu primeiro aparelho.

"Mas até que foi divertido. Aproveitei o sábado para brincar de pega-pega e de esconde-esconde no prédio", conta. O tempo passou tão rápido que ela voltou para casa só às 23h.

Já no domingo, a menina foi visitar o avô. Por força do hábito, pegou o tablet antes de sair de casa. "Mas meu pai percebeu e me avisou. Aí não levei."

Para ela, as noites foram os períodos mais difíceis de enfrentar. "Sempre vejo TV e mexo no celular antes de dormir." Em vez disso, ela brincou com sua cachorrinha e pegou um livro para ler. "Acabei dormindo mais cedo. Fiquei mais descansada no dia seguinte", diz.

Se faria tudo de novo? "Não. Talvez daqui a um mês. Mas agora não."

(RV)