14 de agosto de 2014

Investimento e educação escassos amarram Brasil, diz Scheinkman

Economista brasileiro, professor de Columbia e Princeton, diz que país perde terreno em eficiência

Há 30 anos, trabalhador brasileiro produzia cerca de 25% do que um americano; em 2013, proporção caiu a 20%
MARIANA CARNEIRODE SÃO PAULO
O Brasil está se distanciando dos países de mais elevada eficiência na capacidade de produzir nas últimas três décadas. Isso está limitando o crescimento da economia e os avanços da qualidade de vida dos brasileiros.
Entre 1983 e 2013, a produtividade do trabalhador brasileiro recuou em relação à do americano.
Há 30 anos, cada trabalhador brasileiro produzia cerca de 25% do que um americano. Em 2013, caiu para 20%.
Na China, Índia, Taiwan e Coreia do Sul por exemplo, ocorreu o oposto. Eles melhoraram sua eficiência. Na China essa relação subiu de 5% para 20% neste período.
Os dados foram apresentados pelo economista José Alexandre Scheinkman, professor das universidades americanas Columbia e Princeton. Ele participou de evento organizado pela revista "Exame", em São Paulo.
O economista alertou ainda que a produtividade total da economia (que inclui o uso do capital, além do trabalho) também recuou no Brasil nos últimos 20 anos. Nos demais países citados, ela aumentou.
A conclusão do economista é que o Brasil não está conseguindo absorver as evoluções técnicas globais.
Segundo ele, a pouca educação dos trabalhadores explica parte dessa perda de eficiência. Mas o investimento também caiu muito.
'DESCULPA ABSURDA'
Scheinkman criticou o que chamou de "discurso da desculpa", adotado no Brasil de que o país é muito complexo e, por isso, não pode crescer mais do que os mais eficientes, como EUA.
"Esse discurso da desculpa é um absurdo", afirma. O Brasil, disse ele, tem que crescer para melhorar a qualidade de vida da população. Para ele, não existe discrepância entre buscar o crescimento do PIB e a melhora dos indicadores sociais.
"Não há nenhum choque entre crescer e crescer melhor", afirmou ele. "Um exemplo é o Bolsa Família, trouxe melhoria da qualidade de vida sem um custo alto. Pesquisas mostram que países com uma melhor distribuição de renda tendem a crescer mais. Não há concorrência entre as duas coisas."
Para ele, muitas das famílias que recebem hoje o benefício poderiam se beneficiar "muito mais" de um crescimento maior.
Scheinkman enumerou algumas medidas para elevar a eficiência, entre as quais melhorar as regras e o ambiente de negócios. Porém, na sua avaliação, é relevante uma reforma tributária.
"A reforma tributária tinha que estar no topo da agenda dos candidatos", afirmou. "Quanto mais se aprende sobre o tema, mais se reconhece que é uma confusão total."
Durante os próximos quatro anos, o Brasil deve crescer abaixo da média da última década, com inflação superior à meta de 4,5% e juros acima de 10%. O próximo presidente terminará o período de governo, no entanto, com números melhores do que os verificados em 2014.
Essas previsões fazem parte da pesquisa semanal Focus, do BC, que reúne as projeções para a economia de cerca de cem analistas de instituições públicas e privadas.
Série da Folha destrincha mercado de trabalho do país
folha.com/obrasilquetrabalha, 14/8/2014

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