Sindicância aponta que ex-reitor ampliou despesas sem consultar conselho
Regimento prevê que conselho delibere sobre política salarial; órgão não teve acesso a etapas do plano de carreira
Sindicância instaurada pela USP apurou que o ex-reitor João Grandino Rodas (2010-2013) autorizou aumentos de gastos com recursos humanos sem consentimento do Conselho Universitário.
O regimento geral da instituição estabelece que cabe ao conselho "deliberar sobre a política salarial do pessoal docente e dos servidores não docentes, ouvida a Comissão de Orçamento e Patrimônio".
A Folha teve acesso a documentos examinados pela comissão sindicante designada a apurar as causas da maior crise da USP desde 1989, quando obteve autonomia financeira. Em 2014, a fatia do orçamento comprometida com pessoal bate o índice recorde de 105,5%.
PLANO DE CARREIRA
De 2009 a 2013, os repasses do Estado para a USP cresceram 51% (de R$ 2,89 bilhões para R$ 4,36 bilhões), ao passo que as despesas com pessoal subiram 83% (de R$ 2,37 bilhões para R$ 4,35 bilhões).
Em andamento, a sindicância aponta a implantação do plano de carreira dos servidores como responsável por parcela expressiva desses gastos.
Em maio de 2011, ao aprovar a nova carreira, o Conselho Universitário estimava que o comprometimento do orçamento com pessoal passaria de 78,5% para 82,36%.
Como as diretrizes daquele ano previam que a folha comprometeria 80% do orçamento, as sobras seriam pagas pela reserva da USP.
O impacto na folha de pagamento foi de 7,2%, apontam os documentos examinados pela sindicância.
Em novembro, no entanto, foi necessária nova etapa de implantação, com impacto de 6%. No ano seguinte, foram feitas duas movimentações de carreira que geraram impactos semelhantes aos da segunda etapa.
De acordo com a sindicância, nenhuma dessas despesas adicionais foi prevista pela reitoria ou submetida ao Conselho Universitário.
PRÊMIO DE EXCELÊNCIA
No final de 2012, os gastos com pessoal representavam mais de 95% do orçamento da USP, enquanto a previsão era de 85%. Ainda assim, Rodas concedeu prêmio de excelência de R$ 6.000 aos quase 23 mil servidores e professores. Teria tomado a decisão sem aval do Conselho Universitário, segundo a sindicância.
A resolução n° 5.483, de 2008, estabelece que o prêmio só pode ser concedido se houver "disponibilidade orçamentária/financeira" de acordo com o orçamento aprovado pelo conselho.
Ainda em 2012, a concessão de vale-refeição, de 2.000 beneficiários, passou a abranger 22 mil pessoas. Além disso, o auxílio-alimentação foi reajustado.
Como resultado, entre 2009 e 2013 houve aumento de 251% nessa rubrica (R$ 242 milhões a mais), conforme aponta a sindicância.
Em 2013, o comprometimento do orçamento da USP com a folha de pagamentos chegou a 100%, a despeito da diretriz orçamentária aprovada, que previa 92,8%.
O atual reitor, Marco Antonio Zago, disse que não se manifestará até receber o relatório final da sindicância.
DE SÃO PAULO
Funcionários trancam a USP, PM reage e greve é mantida
Sindicato marca novos protestos; PM diz que tentou negociar
Policiais militares e grevistas da USP entraram em confronto na manhã desta quarta (20). Servidores bloquearam os três principais acessos ao campus, e a PM, acionada pela reitoria, reagiu com bombas de gás e tiros de borracha.
Segundo a PM, houve tentativa de negociação para evitar o uso de força. O Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) nega.
De acordo com a polícia, a ação não deixou vítimas e ninguém foi preso. Segundo os sindicalistas, ao menos oito manifestantes se feriram.
Audiência no Tribunal Regional do Trabalho terminou sem acordo. Novo encontro foi marcado para o dia 27.
A desembargadora pediu que a USP suspenda o corte de salário de grevistas e a estes, que parem os piquetes.
O Sintusp, parado desde maio, quer reajuste, "mas não mencionou qual é sua pretensão de aumento (funcionários citaram: 9,78%). A USP ofereceu zero de reajuste. A instituição explicou que está com 105% de sua receita comprometida em razão de promoções e despesas já realizadas", disse o tribunal em nota.
A USP disse respeitar o direito de greve, "o que não inclui afronta aos direitos de outros", e se empenhar em negociar, mas a resposta do sindicato tem sido "atos violentos".
- Folha de S.Paulo, 21/8/2014
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