16 de agosto de 2014

Os EUA contra o racismo

EDITORIAIS
editoriais@uol.com.br, 16/8/2014,Folha de S.Paulo

A morte de um jovem negro por um policial em Ferguson, no Estado do Missouri, reavivou na memória dos norte-americanos os tempos mais sombrios de intolerância e violência racial nos Estados Unidos. A vítima, de 18 anos, estava desarmada, ao que tudo indica, e a polícia recusou-se a identificar o agente responsável pelo disparo.

O episódio, que teve lugar numa cidade de pouco mais de 20 mil habitantes e de maioria negra, deflagrou uma onda de protestos.
A polícia, com armamento militar e veículos blindados, atuou de maneira truculenta. Alguns manifestantes usaram coquetéis molotov, destruíram lojas e promoveram saques. Mais de 50 pessoas foram detidas, entre elas dois jornalistas.
Diante do conflito, o presidente Barack Obama fez um pronunciamento pela TV. O primeiro mandatário de origem negra condenou os atos de vandalismo, mas concentrou suas críticas na ação policial.
Considerou que não havia desculpa para usar força excessiva contra atos pacíficos ou colocar pessoas na prisão por exercerem seus direitos constitucionais.
O governador do Estado, Jay Nixon, democrata como Obama, transferiu à Polícia Rodoviária a responsabilidade pela segurança e indicou um oficial negro, com raízes locais, para liderar a operação.
Num país que avança na tentativa de superar o passado de intolerância étnica, o caso despertou questionamentos sobre racismo nas esferas policial e judicial.
Não apenas grupos progressistas expressaram suas apreensões. Também entre conservadores --que em outros tempos justificavam em uníssono a truculência da polícia em nome da lei e da ordem-- houve declarações nesse sentido.
O senador Rand Paul, republicano do Kentucky, afirmou, em artigo para a revista "Time", que preconceitos raciais distorcem a aplicação da justiça e lembrou que as prisões "estão cheias de negros e pardos que cumprem inadequadamente longas e duras penas por erros não violentos cometidos em sua juventude".
Não há dúvida de que o racismo continua presente no cotidiano e na vida institucional americana --suas consequências perniciosas não diferem muito das que se verificam no Brasil. É ao menos alentador que, ocupando as atenções de autoridades de variados níveis e tendências nos EUA, o tema seja objeto de amplo debate público.

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