8 de março de 2013

Ceará: Taxa de mortes por arma de fogo aumenta 192% em 11 anos


O Povo - Últimas | Capital | CE, 8/3/2013
Enquanto São Paulo, a maior metrópole brasileira, reduziu em 73,5% a taxa de mortes por arma de fogo entre 2000 e 2010, Fortaleza, com população 4,5 vezes menor do que a da capital paulista, apresentou aumento de 192,5%, no mesmo recorte temporal. O inchaço estatístico da cidade cearense é o terceiro maior do País. Fica atrás apenas do de São Luís (215%) e Maceió (199%). O Rio de Janeiro, segunda maior cidade, teve queda de 56,2% - o que lhe rendeu o terceiro melhor desempenho, perdendo para Campo Grande (- 61,5%) e SP. (ver tabela na página 9)

O ranking foi elaborado pelo O POVO com base no Mapa da violência 2013: mortes matadas por armas de fogo, divulgado no fim da noite de quarta-feira, 6, pelo CEBELA e pela FLACSO
Conforme a publicação, Fortaleza registrou uma taxa de óbito por arma de fogo de 16,2 para cada 100 mil habitantes em 2000 e de 47,3 para cada 100 mil pessoas em 2010. O índice é um quociente entre o número de casos e o contingente populacional dos referidos anos. Considerando apenas as taxas de 2010, Fortaleza teve o sexto pior desempenho entre as capitais (atrás de Maceió, João Pessoa, Vitória, Salvador e Recife).
Em 2000, 346 fortalezenses morreram vítimas de disparos. Em 2010, o número foi de 1.159. Mas os indicadores não são apenas de assassinatos. Representam também óbitos acidentais, suicídios e os de intenção determinada. No entanto, o relatório informa, referindo-se ao cenário nacional: "O alto crescimento das mortes por armas de fogo foi puxado, quase exclusivamente, pelos homicídios, que cresceram 502,8%, enquanto os suicídios com armas de fogo cresceram 46,8% e as mortes por acidentes com armas caíram 8,8%."
O inchaço de 192,5% nos casos em Fortaleza nos 11 anos analisados na pesquisa destoa da diminuição de 14,6% na média nacional por capital - onde a taxa caiu de 34,8 por 100 mil habitantes para 29,8 por 100 mil pessoas.
No contexto estadual, a situação do Ceará também preocupa. A unidade federativa ocupava a 19ª posição no ranking de 2000 - com taxa de 9,4 para cada 100 mil habitantes. Em 2010, com uma taxa de 25 casos para cada grupo de 100 mil pessoas, figura no 10º lugar. Uma variação de 166,9%.
Procurada pelo O POVO, a Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) preferiu não se pronunciar sobre o assunto ontem. A assessoria do órgão disse que o corpo técnico da pasta primeiro se debruçaria sobre o estudo antes de algum representante ser indicado para dar declarações a respeito dos números da pesquisa.


Tráfico de armas é principal motivo do aumento das mortes na Capital
Para além dos índices de assassinatos elevarem as taxas de mortes por armas de fogo em Fortaleza (a cidade teve 1.112 homicídios em 2010), o tráfico de armamento é apontado por estudiosos da violência urbana como um dos principais fatores de aumento dos óbitos por disparos de tiros entre 2000 e 2010 na capital cearense - e no Brasil.
O coordenador do Laboratório de Estudos sobre Conflitualidade e Violência (Covio/Uece), Geovani Jacó, diz que o Governo do Estado precisar reforçar as hoje incipientes campanhas educativas de desarmamento e, principalmente, reforçar o serviço de inteligência da Secretaria da Segurança Pública.
Conforme O POVO denunciou em 13/8/2012, o Ceará possui o menor efetivo proporcional à população de Polícia Civil do País. E é da corporação a responsabilidade de investigar ocorrências. "Desarticular a circulação e o uso das armas é lidar com o próprio crime organizado. Há notícias da existência até de uma rede de locação de armas nos territórios com maior intensidade do crime. A pessoa loca a arma só pra cometer um assassinato e devolve. Mas a polícia investigativa do Ceará é esvaziada e enfraquecida, e não enxerga isso. Isso faz com que o Estado fique aquém das organizações sofisticadas do tráfico de armas", critica.
O fracasso da proposta do Ronda do Quarteirão também é apontada por Jacó como possível fator de inchaço nas taxas locais. "Mas existe também o crime organizado dentro do Exército, das polícias... Volta e meia, a gente vê agentes flagrados negociando armas com o crime organizado. Porque o domínio da arma estabelece o controle de territórios. E, tendo o controle do território, você controla também o mercado da droga."
Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC), Marcos Silva qualifica como irrisório o combate ao tráfico de armas no Ceará. "A Secretaria divulga que tem apreendido cada vez mais armas. Mas, cada vez que aumentam essas apreensões, é sinal de que o mercado informal está se enveredando. O Governo não consegue atingir a fonte e produz-se uma bola de neve que tem consequência na constituição de uma cultura na qual a arma de fogo está se tornando ferramenta de uso contínuo e sem pudor." (Bruno de Castro)

ENTENDA A NOTÍCIA
O Mapa da Violência é lançado anualmente. A edição 2013 analisa estatísticas oficiais de mortes por armas de fogo nos estados, capitais e demais municípios. A mortalidade por idade, raça e sexo também é mostrada.
Saiba mais
A pesquisa do CEBELA e a FLACSO inclui apenas as mortes por arma de fogo e analisa o período entre 2000 e 2010.
Na semana passada, O POVO mostrou outra pesquisa que apontava Fortaleza como a 13ª cidade mais perigosa do mundo entre as grandes metrópoles. O estudo, de uma ONG mexicana, considera apenas as cidades com mais de 300 mil habitantes e utiliza dados de 2012.
Serviço
O Mapa da Violência 2013 pode ser acessado na Internet no seguinte endereço eletrônicomapadaviolencia.org.br/pdf2013/
MapaViolencia2013_armas.pdf
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