5 de março de 2013

Educação Experimental na Rocinha Proposta inovadora é testada em escola no Rio de Janeiro



Edna Ferreira, Jornal da Ciencia

No lugar de salas de aulas
tradicionais, espaços amplos e
sem paredes; ao invés de turmas,
alunos reunidos em equipes chamadas “famílias”; nada de quadros-negros ou giz, é a vez dos
tablets, e os professores transformam-se em mentores. Essa é a
proposta do projeto GENTE –
Ginásio Experimental de Novas
Tecnologias implantado pela Secretaria Municipal de Educação
do Rio de Janeiro na Escola André
Urani, na Rocinha e que terá
início neste ano letivo.
O novo modelo quer dar às
crianças e jovens uma educa-
ção mais alinhada com o século
XXI. A proposta inova na arquitetura, apropria-se integralmente
de novas tecnologias educacionais e coloca o aluno no centro
do processo de aprendizagem.
Para Isaac Roitman, professor
da Universidade de Brasília
(UnB) e coordenador do Núcleo
do Futuro da UnB, a iniciativa é
muito positiva, pois a educação
em todos os níveis – infantil, bá-
sica e superior – está precária e
defasada, demandando reformas radicais para uma harmonização com a realidade do século XXI.
“O projeto GENTE a ser desenvolvido com jovens da favela
da Rocinha aponta para uma
concepção contemporânea onde os estudantes são protagonistas no processo de se apropriar do conhecimento e de suas
aplicações. A ênfase do trabalho coletivo é fundamental e importante, assim como a plena
utilização dos recursos da tecnologia de informação e comunicação”, opinou Roitman.
O professor afirma que a iniciativa deveria ser estendida
para todo o país. “Essa experiência merece a atenção da
comunidade acadêmica, especialmente da área de Educação,
e ser avaliada, como o projeto
recomenda, para, no caso de
sucesso, ser expandida a todas
as escolas do Rio de Janeiro e
do Brasil”, observa.
Com a nova metodologia, as
antigas séries deixam de existir.
Em vez disso, os 210 jovens da
André Urani – que estariam entre o 7º e 9º anos do ensino
fundamental – são agrupados
em equipes de seis membros,
chamadas de “famílias”, independentemente de sua série de
origem. A formação das famílias
dar-se-á em parte por afinidade,
levando em consideração as
escolhas dos próprios membros,
e em parte pelo diagnóstico de
habilidades, após avaliações
aplicadas aos alunos.
Os profissionais do municí-
pio montaram esse projeto inspirados na observação de vá-
rias experiências educacionais
positivas de diferentes países. O
primeiro pilar do projeto é a defesa da personalização do ensino. Cada aluno irá avançar com
base no seu desenvolvimento e
a avaliação não será feita por
notas, mas por competências.
Em 2013 também começam
as atividades de mais dois Giná-
sios Experimentais: das Artes
Visuais (GEA), na praça Mauá e
do Samba (GES), próximo ao
Cacique de Ramos, na Zona
Norte do Rio. No GENTE, tablets
e smartphones substituirão os
antigos cadernos. Será disponibilizada a Educopédia, plataforma de aulas digitais de cada
disciplina, criada pelos próprios
professores da rede municipal.
No GES, os alunos vão aprender a tocar instrumentos musicais, terão aulas de canto e orquestra, de história da música e
teoria musical, além de atividades em parceria com o Cacique
de Ramos, um dos berços do
samba carioca. No GEA, além de
interação com o Museu de Arte
Moderna, serão oferecidos aos
alunos nove ateliês: desenho,
pintura, cor, figura, tecelagem,
3D, artes gráficas, outras mídias
e intervenção.
No GENTE, o professor não
será mais um transmissor de
conteúdo, e sim, um facilitador,
que ajudará seus alunos a encontrarem o seu próprio conhecimento e irá indicar formas para
que esse processo seja efetivado. O professor é o mentor responsável pelas famílias de alunos. E cada mentor será responsável por três famílias, que reunidas formam as equipes. Serão
transmitidos conteúdos como higiene, sustentabilidade, por
exemplo, sempre envolvendo e
motivando o aluno. Em vez de
dar aula de português ou matemática, o mentor vai ajudar o
aluno a encontrar a informação
de que precisa para entender o
conteúdo, mesmo que o assunto
não seja o da sua formação.
Para que os alunos possam
escolher entre ambiente virtual
ou presencial, é preciso que todos os alunos tenham acesso a
equipamentos e internet. Por isso,
cada aluno terá o seu tablet ou
netbook e, quando for pedagogicamente justificável, vai poder
levá-lo para casa. Todas as dependências da Escola André
Urani terão internet sem fio, de
alta velocidade.
Para Roitman a natureza coletiva do método com formação
de grupos é um instrumento importante para a construção de
ações coletivas que contribuirá
para uma plena compreensão e
convivência da diversidade. “Tenho convicção de que ao contemplar o brilho dos olhos dos
jovens do projeto GENTE, notaremos diferenças significativas
em comparação com os jovens
envolvidos no atual sistema educacional brasileiro”, conclui

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