5 de março de 2013

Documentário confronta tese de suicídio da namorada de Lamarca Iara Iavelberg


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SÃO PAULO — A certeza de que a militante Iara Iavelberg não se matou, e sim foi morta por agentes da repressão, é um dos resultados de sete anos de investigação sobre as circunstâncias da morte da perseguida política, apresentados ontem durante reunião da Comissão da Verdade de São Paulo. O resumo da apuração foi feito pela sobrinha de Iara, Mariana Pamplona. Ela e o marido, o cineasta Flavio Frederico, produziram o documentário ainda inédito “Em busca de Iara”, que refaz os últimos passos da mulher que ficou conhecida como namorada do líder Carlos Lamarca e uma das mais belas militantes da esquerda que atuou na luta armada.
O documentário será lançado no próximo mês e revela entrevistas com familiares, amigos, ex-militantes de esquerda e também militares. Documentos oficiais apontavam que a mulher havia se matado com um tiro no peito dentro do banheiro do apartamento vizinho a um aparelho da organização MR-8, desbaratado pelas forças de segurança em agosto de 1971, na Bahia. Exumação do corpo realizada em 2003 e novo laudo produzido no ano seguinte com a ajuda de documentos apontou a inexistência de vestígios de tiro à queima roupa ou em contato direto com a pele nas imagens da morte de Iara, elementos que contrariam a tese de suicídio, de acordo com o perito Daniel Muñoz.
A hipótese de que Iara poderia ter sido morta foi levantada pela primeira vez por O GLOBO, em matéria de 1996. De acordo com a reportagem, o sargento Rubem Otero teria confidenciado o crime a um médico do Hospital Naval de Salvador.
O documentário traz novos elementos ao caso, como o relato de moradores do prédio onde Iara morreu e também um relatório interno da Polícia Federal com menção à ultima frase da mulher, informando que se entregaria. A dona do apartamento onde o corpo foi encontrado relatou a existência de marcas de outros tiros dentro do banheiro. Outros vizinhos ouviram barulho de metralhadora. Até mesmo o adolescente que avisou a polícia sobre a presença de uma mulher no banheiro de casa aparece no documentário, confirmando parte da história oficial. Há indícios de que a polícia já se preparava para deixar o prédio quando foi alertada pelo garoto.
— Queriam Iara viva, porque ela poderia levá-los a Carlos Lamarca, que ainda não tinha sido morto. Quando a mataram, não sabiam que era ela — conta Mariana, que ainda estava na barriga da mãe quando a tia morreu e, por medo de represálias do Estado, não ganhou o sobrenome Iavelberg na carteira de identidade.

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