19 de julho de 2013

Goiás é 9º no ranking de mortes

O Popular - Últimas Notícias | GO, 19/7/203




Mais de 15 mil pessoas foram assassinadas em Goiás entre os anos de 2001 e 2011. São homens e mulheres, de diferentes idades, que perderam a vida de forma violenta por uma série de motivos, entre os quais acerto de contas relacionado a drogas, desavenças, dívidas, vinganças e questões passionais. Na prática, é como se ao longo de uma década a população de municípios como Abadiânia e Crixás fosse dizimada. Conforme estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2012, tais municípios têm, cada um, cerca de 15,7 mil habitantes.
Tão grave quanto a grande quantidade de pessoas assassinadas é o fato de que, em Goiás, os crimes de morte estão em curva ascendente, na contramão da realidade verificada em Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, onde os índices de assassinato diminuíram de forma significativa. O Mapa da Violência 2013 - Homicídios e Juventude no Brasil, estudo divulgado ontem pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, revela que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes em Goiás saltou de 21,5 para 36,4, num avanço de 69% nos dez anos. Em números absolutos, a quantidade de mortes por homicídio no Estado cresceu 100% entre 2001 e 2011.
Em 2001, Goiás estava na 13ª colocação no ranking dos Estados com maior índice de crimes contra a vida. Hoje, ocupa o preocupante 9º lugar, atrás apenas de Alagoas, Espírito Santo, Paraíba, Pará, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal e Amazonas. Além disso, os municípios de Luziânia, Valparaíso de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas, Cristalina e Cidade Ocidental - todos localizados no entorno do Distrito Federal - estão no rol das cem localidades mais violentas do País.
O mapa da Violência também mostra que no Brasil a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de 27,1, bem inferior aos 36,4 registrados em Goiás. No período de dez anos, o índice em São Paulo caiu de 41,8 para 4,1, colocando o Estado na cômoda posição do 27º lugar em número de homicídios, à frente apenas de Santa Catarina. No Rio de Janeiro, a taxa de assassinatos caiu em uma década de 50,5 para 14,3.
Jovens
Entre as mais de 15 mil pessoas assassinadas em Goiás, 6.051 tinham entre 15 e 24 anos, quantidade compatível à população de cidades como São Francisco de Goiás e Campo alegre de Goiás. Os índices relativos à morte de jovens são ainda mais impressionantes. Conforme o Mapa da Violência, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes entre os jovens passou de 37,8 para 69, sofrendo um avanço de 82,8% entre 2001 e 2011.
O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e autor do Mapa da Violência 2013, vincula o avanço dos crimes contra a vida em Goiás à descentralização da economia do País verificada a partir de 1980, à migração populacional resultante do crescimento econômico e, ainda, à fragilidade de investimentos para o enfrentamento da violência no território goiano, de uma forma em geral, e no entorno do Distrito Federal, em particular.
Migração
Ele assinala que Goiás, assim como outros Estados brasileiros beneficiados com a migração do polo industrial, absorveu novos moradores sem realizar investimentos maciços na área de segurança. "O migrante, na maioria das vezes, não tem raízes culturais nem familiares. Ele chega ao local e, não raro, envolve-se na marginalidade", sublinha. Tal fato, avalia Julio Jacobo Waiselfisz, pode contribuir para entender o fenômeno verificado nas seis cidades do entorno do Distrito Federal incluídas no grupo das localidades com maior índice de criminalidade no País.
O professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás Nildo Viana relaciona o avanço das mortes por assassinato em Goiás aos problemas sociais enfrentados em grande parte do País, entre os quais o desemprego, as péssimas condições de vida e à violência policial. Os jovens, conforme diz, estão mais vulneráveis às mortes violentas devido ao envolvimento com o uso e o tráfico de drogas, ao desemprego e ao fato de estarem mais expostos às situações de risco, inclusive à violência decorrente das ações policiais.
Julio Jacobo Waiselfisz destaca que o decréscimo dos crimes de morte em São Paulo e no Rio de Janeiro está associado ao incremento de recursos e à efetivação de políticas públicas na área de segurança a partir de 2000. "A instituição do Fundo Nacional de Segurança garantiu investimentos para o enfrentamento da violência nas regiões metropolitana do País", destaca.


19 de julho de 2013
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O grito

Com um véu rosa, parte dos densos cabelos negros à mostra, o semblante grave mas ainda infantil, contrastando com a voz firme e o discurso vigoroso, Malala Yousafzai mais uma vez mostrou sua coragem e lucidez. "Vamos pegar nossos livros e canetas. Eles são nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo", disse para uma plateia de poderosos. A menina paquistanesa, que foi perseguida e baleada pelo Taleban por defender a educação para garotas em seu país, foi aplaudida de pé na ONU ao discursar para chefes de Estado e líderes jovens de mais de cem países, em 12 de julho, dia de seu aniversário de 16 anos - declarado o "Dia de Malala" pelas Nações Unidas.
A energia e a vontade que saem pelos poros da paquistanesa têm mesmo uma imensa capacidade transformadora, que amedronta quem quer que tudo permaneça como está, quem aposta no continuísmo como forma de preservar privilégios, status e retrógradas tradições. Experimentamos no mês passado o gostinho dessa força renovadora quando estudantes, muitos deles entre 17 e 19 anos, conseguiram mobilizar multidões que invadiram as ruas e acuaram governantes com seus gritos pedindo mudanças. Coragem e energia contagiavam os protestos e palavras de ordem nas ruas brasileiras, numa sintonia perfeita com o discurso da menina que saiu do outro lado do mundo.
"Os terroristas pensaram que eles mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram. Força, coragem e fervor nasceram", completou Malala, referindo-se ao atentado que tentou calar seu discurso ameaçador. Mas naquele mesmo 12 de julho, o "Dia de Malala", enquanto líderes da ONU ouviam uma garota convocando o mundo para uma guerra com livros, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgava, no Seminário Juventude e Risco: Perdas e Ganhos Sociais na Crista da População Jovem, os resultados de uma batalha sanguinária que se desenrola diariamente nas ruas do Brasil.
Os jovens que poderiam estar emprestando sua energia para incomodar os corruptos e desafiar os autoritários, ou que poderiam estar simplesmente usufruindo dos melhores anos de suas vidas, estão morrendo aos montes e cada vez mais cedo. O índice de homicídios e de mortes no trânsito na faixa etária dos 15 aos 29 anos cresce sem parar, em velocidade assustadora. Em alguns Estados, como Alagoas, a expectativa de vida desaba em função da violência contra os jovens: os homens vivem até dois anos e sete meses a menos por causa dessas mortes precoces, revela o estudo do Ipea.
Nova leva de estatísticas aterradoras envolvendo a garotada que poderia estar mudando o mundo foi divulgada ontem, pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), no Mapa da Violência 2013. Os homicídios de jovens cresceram 326% no Brasil entre 1980 e 2011. E o que é pior: a estratégia perversa de transformar a vítima em culpada - atribuindo-lhe adjetivos como traficante, arruaceiro, viciado - contribui para perpetuação dessa tragédia, alertou o autor da pesquisa, Julio Jacobo Waiselfisz. O saldo é de 231 mil jovens assassinados no Brasil entre 2002 e 2010. Seu grito foi abafado pelas armas. Malala, os meninos que se reunirão na Jornada da Juventude, os estudantes que empunham seus cartazes de cartolina e os demais que estão conseguindo sobreviver a essa guerra insana terão de gritar por eles.

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