11 de setembro de 2015

‘Vamos acentuar a definição dos programas de formação de docentes



RIO — Um estudo inédito do MEC, publicado no último domingo pelo GLOBO, estima que 40% dos cerca de 507 mil professores do ensino médio no país terão condições de se aposentar nos próximos seis anos. Segundo o ministro da Educação, para impedir uma escassez de profissionais, o governo terá que intensificar e qualificar a formação de docentes.
Como o MEC pretende agir para evitar uma escassez de professores do ensino médio no futuro?
Vamos acentuar a definição dos programas de formação de docentes. Não é uma questão apenas quantitativa, é qualitativa. Também aumentaremos a negociação dos demais parceiros e entes federados sobre as políticas que possam tornar cada vez mais atrativa a profissão de docente. É importante lembrar que os professores adquirirem o direito de se aposentar não quer dizer que o farão de imediato. Mas esse é um alerta importante para que o MEC tome as iniciativas, com todos os parceiros da educação, para afinar as políticas de formação docente.
Num ano com tantas demandas e menos recursos, como tem sido a rotina do ministro da Educação?
É preciso falar muito, aprender muito e, sobretudo, aprimorar as políticas que vamos lançar. Num período de recursos escassos, precisamos escalonar os gastos de modo a evitar cortar ações importantes. Ao mesmo tempo, temos que nos preparar para o futuro revendo a qualidade das ações, para, superados os problemas financeiros, ter projetos com melhor definição. O grande exemplo disso é o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Com menos recursos que no ano passado, melhoramos a qualidade dos cursos ofertados. Em 2014, 8% dos cursos eram de nota 5, que é a máxima. Neste ano, só no primeiro semestre, 20% dos cursos tinham essa avaliação.
No projeto de retomada do crescimento do país, qual o papel estratégico da educação?
A retomada vai passar muito pelo avanço econômico. Isso quer dizer que vamos precisar de mão de obra qualificada. Tradicionalmente, buscava-se esse trabalhador nas universidades, em cursos de tecnologia. Hoje, com o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego), a educação profissional, desde o equivalente ao ensino médio, passando pelo curso de tecnólogo e chegando à graduação de quatro ou mais anos, tornou-se protagonista nesse processo.
Programas como Fies e Pronatec também se tornaram fonte de preocupação em função de cortes de verba e de vagas. O que vai acontecer com esses programas daqui para frente?
Esses programas são muito importantes e vão continuar. O Fies responde por quase um quarto da população universitária brasileira. É um programa que não tem volta. É bom lembrar que é um financiamento com juros subsidiados. Esse dinheiro, na sua maior parte, volta e vai alimentar futuras gerações de alunos no ensino superior. Já o Pronatec é fundamental para um desenvolvimento sustentável da economia e uma prosperidade crescente da classe trabalhadora.
O cumprimento de várias metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é dado como impossível por especialistas em função dos cortes no orçamento. Como ficam essas metas?
O problema principal não são os cortes de orçamento. A questão é que a economia entrou em uma crise que, no fundo, afeta o mundo desde 2008. Estamos trabalhando intensamente em todas as metas do PNE, inclusive na construção do Sistema Nacional de Educação. As metas que dependem essencialmente do dinheiro serão cumpridas à medida que a economia se reerguer. Enquanto isso, estudamos para que as propostas sejam realizadas da melhor maneira possível.
Muito se fala sobre a necessidade de as escolas terem um olhar mais voltado para o futuro. Nesse contexto, como estão as escolas brasileiras?
Educação 360Há muitas formas de tornarmos as escolas mais aptas a encararem os desafios atuais. Elas têm que fazer maior uso de tecnologia avançada, que envolve internet. Mas não basta você disponibilizar o computador para este destino, é necessário um sistema de informatização nas escolas que tenha também a adesão dos professores. Além disso, faz parte da escola do futuro o avanço do que é chamado STEM: ciência, tecnologia, engenharia e matemática (na sigla em inglês). Isso é importante para aumentarmos a produtividade da economia. Como o Brasil é um país emergente, o avanço precisa consolidar a inclusão social e completar o trabalho de desenvolvimento e de supressão da miséria. Há outra perspectiva: existe uma esfera de criatividade na educação que o MEC está procurando desenvolver por meio de uma assessoria especial do gabinete, procurando formas de educação em que o aluno seja protagonista.
O país enfrenta uma onda de greves no ensino superior, com cerca de 60 instituições federais afetadas. Como o ministério tem atuado sobre isso?
Estivemos desde o início abertos à negociação com líderes sindicais. Depois de deflagrada a greve, anunciada antes da minha posse, estivemos sempre abertos ao diálogo. É bom lembrar que é um ano de crise econômica. Há medidas muito difíceis para o ministério tomar, que dependem de instâncias mais amplas.
Há uma grande preocupação no país com o corte de verbas para pesquisas acadêmicas. Como o governo pode evitar que sejam prejudicadas?
Nenhuma bolsa de pós-graduação foi cortada pela Capes. É falsa a afirmação de que tem havido algum tipo de corte de bolsas. Nós privilegiamos as bolsas porque elas são o ponto inicial para o pesquisador continuar trabalhando. Porém, também preservamos por inteiro o Portal de Periódicos, que é um insumo fundamental para a pesquisa. Mais de 90% da verba que a Capes coloca na pós-graduação foram preservados. O que não foi possível preservar integralmente, porque sofreu um contingenciamento, foi o custeio da pós-graduação.

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