21 de março de 2016

Blindar a educação: Numa área em que resultados tendem a ser de longo prazo, conquistas ou retrocessos raramente acontecem por obra de um único governo


POR ANTÔNIO GOIS
Tempos tão radicalizados na política quanto o que estamos vivendo hoje no Brasil acabam deixando em segundo plano a discussão de problemas estruturais do país. Nesse cenário, proliferam também análises simplistas e sempre contaminadas por paixões. A depender do lado da torcida, a lógica do “nunca antes na história desse país” é usada para defender ou atacar.
O país, por exemplo, comemora hoje o aumento da proporção de alunos negros no ensino superior. Ainda há um longo caminho a percorrer se considerarmos que o maior acesso desse grupo ainda acontece em carreiras de menor prestígio salarial. Mas o crescimento é uma boa notícia. Em 1992, apenas 19% dos universitários se autodeclaravam ao IBGE como sendo pretos ou pardos. Em 2014, último dado disponível da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), já são 42%.
Políticas como a lei de cotas em universidades federais ou o ProUni em instituições privadas, criadas durante governos petistas, contribuíram para esse crescimento, mas não explicam tudo. A série histórica da Pnad mostra que esse movimento começou em 1998, e aconteceu principalmente no setor particular.
Quando Lula assumiu a Presidência em 2003, a proporção de negros no ensino superior, que era de 18% cinco anos antes, estava em 25%. O crescimento iniciado em 1998 continuou de forma ininterrupta durante as gestões petistas, tendo chegado aos 42% verificados em 2014.
Proporção de universitarios negros
Vale registrar que o setor que mais contribui para esse crescimento foi o privado, onde o salto na proporção de universitários negros foi de 18% para 42% entre 2001 e 2014. No mesmo período, a variação no setor público foi de 31% a 44%. Essa maior inclusão de negros no ensino superior em instituições particulares é explicada pelo fato de o setor ter se expandido muito desde a gestão tucana e também graças a políticas específicas de inclusão criadas pelo PT, caso do ProUni.
Esse aumento também só foi possível porque mais jovens negros conseguem concluir o ensino médio. Em 1995, apenas 11% deles tinham esse nível completo na idade dos 18 aos 24 anos. Em 2003, quando Lula assumiu, o número havia subido para 28%. Hoje está em 49%.  
Jovens Negros com Ensino Médio Completo
Infelizmente, não faltam também exemplos de áreas em que governo algum nos últimos 20 anos conseguiu avançar. Os pífios indicadores de qualidade do ensino médio são um exemplo disso. Em 1995, apenas 12% dos jovens concluíam essa etapa com aprendizado adequado em matemática. Em 2013 (último ano com dado disponível), o número continua assustador, com apenas 9% tendo aprendizado adequado.
Percentual de alunos com aprendizado adequado em matemática e português ao final do ensino médio


Cada gestão, obviamente, teve seus erros e acertos no setor, e nunca haverá consenso político em relação a quem errou ou acertou mais. Divergir faz parte do jogo democrático. Mas, na educação, por ser uma área em que resultados tendem a aparecer apenas no longo prazo, é ainda mais importante entender que conquistas ou retrocessos estruturais raramente acontecem por obra de um único governo. Por isso é tão importante pactuar políticas públicas que sejam eficientes e sobrevivam à troca de ministros ou presidentes.

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