Quando foi lançada a cartilha "Escola sem Homofobia", muitos políticos se apressaram para condená-la, apelidando-a de "Kit Gay" e insistindo que ela estimularia a homossexualidade entre os alunos. Primeiramente, é preciso se estar ciente de uma coisa: a homossexualidade não pode ser estimulada, ela é uma condição que não depende da vontade de uma pessoa.
Ainda não se sabe qual é a causa biológica da homossexualidade, mas os mais recentes estudos sugerem que se trata de um traço hereditário relacionado a marcadores epigenéticos que os homens recebem das mães e as mulheres recebem dos pais. Há ainda outras teorias que envolvem ação hormonal durante a gravidez e até mesmo razões evolutivas - os homossexuais teriam o papel de "cuidadores", inclinados a ajudar seus pais e a cuidar do lar como um todo. Apesar de não sabermos ao certo o que causa a homossexualidade no indivíduo, é certo que se trata de um traço presente em todas as culturas ao redor do mundo e também entre outras espécies de animais, o que deixa claro que não estamos falando de nenhuma "perversão".
Sendo assim, o Projeto Escola sem Homofobia é de suma importância para se promover o respeito e a tolerância para com homossexuais, bissexuais e até mesmo pessoas trans, ao contemplar a diversidade sexual no âmbito da escola e procurar ajudar educadores a lidar com o problema da homofobia.
De acordo com pesquisa realizada com estudantes entre 15 e 29 anos no ano letivo de 2013, cerca de 20% dos alunos disseram que não gostariam de ter como colegas de classe travestis, transgêneros, transexuais ou homossexuais. A rejeição se mostrou maior entre os homens: 31% dos jovens pesquisados disse que o perfil mais indesejado entre um colega seria o de uma travesti, transgênero, transexual ou homossexual, enquanto entre as mulheres essa resposta foi dada por apenas 8% das entrevistadas.
Esses resultados não são novidade para alunos que experienciaram em primeira mão o preconceito e a rejeição por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero durante toda a vida escolar. Enquanto a administração e os professores assumem uma postura de falsa tolerância, estudantes ganham passe livre para fazer piadinhas e provocar os colegas, uma vez que o bullying é encarado como "só uma brincadeira" e seus efeitos a longo prazo são ignorados pela própria escola.
A violência simbólica sofrida pelos alunos e também por professores, cotidianamente, é subestimada há séculos e, segundo a pesquisadora e socióloga Miriam Abramovay, uma das responsáveis pela pesquisa acima mencionada, a escola não está preparada para lidar com o tema da sexualidade e os alunos não estão preparados para não serem preconceituosos. Como resultado, homossexuais, travestis, transgêneros e transexuais sofrem tanto que acabam deixando a escola.
Discursos repletos de falsas informações e acepções errôneas continuam a ser proferidos tanto por educadores quanto por políticos, pela imprensa e por líderes religiosos - algo que podemos constatar não apenas na cruzada contra o que apelidaram de "Kit Gay" como também na invenção de uma suposta "ideologia de gênero". Em vez de promoverem a tolerância e a compreensão, esses discursos trabalham para se consolidar a discriminação e a rejeição daqueles que não estão de acordo com uma heterossexualidade instituída como "natural".