28 de fevereiro de 2013

Juventud y Violencia: Abandonar a vida do crime? 'Difícil, hein!'


Allan de Abreu, Diário da Região - S. J. do Rio Preto,28/2/2013

Johnny Torres
M.R.G., 16 anos: "Tirava até R$ 800 por noite. Comprava tênis, roupa de marca. Nunca faltava nada"
Chama a atenção, no braço direito de M.R.G., 16 anos, a figura do irmão metralha com cara de mau, um revólver em uma das mãos e um saco de dinheiro na outra. A tatuagem é a melhor expressão da vida bandida que o jovem escolheu. Ele já perdeu a conta das vezes em que foi flagrado pela polícia com drogas no bairro Santo Antonio, em Rio Preto, com direito a duas internações na Fundação Casa, a antiga Febem. O mergulho de crianças e adolescentes da região no crime é cada vez maior, conforme atestam as estatísticas da Secretaria de Estado da Segurança Pública. Em 2010, foram 575 os menores apreendidos pela polícia na área do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-5). Em 2011, foram 803 adolescentes, e no ano passado, 1.051. Um crescimento, nesse último período, de 31%. Na média do ano passado, a cada dia três menores são apreendidos na região. A Polícia Militar, responsável pela grande maioria dos flagrantes, estima que o tráfico seja responsável por pelo menos dois terços da apreensão dos jovens. "Não tem dia em que não encontramos adolescentes com droga", diz o major Luiz Roberto Vicente, comandante do 17º Batalhão, que abrange a maior parte de Rio Preto. Ontem à tarde, dois jovens de 16 anos foram flagrados com cem pedras de crack no Solo Sagrado, zona norte. O major credita o aumento das estatísticas à ênfase policial no combate ao narcotráfico. "Como menor não fica preso, o traficante utiliza adolescentes para a venda da droga. Se ele é preso, sabe que a punição será branda. Por isso ele é sempre a face mais visível do tráfico", diz Vicente. Mas o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo "Mapa da Violência", que aborda o tema entre os jovens do Brasil, argumenta que a relação do adolescente com a criminalidade tem raízes mais profundas. "Começa na família desestruturada, e a violência psicológica e física do pai e da mãe contra a criança", diz. A partir dos 14 anos, essa violência passa a vir não mais de casa, mas do mundo exterior. Aí entram as drogas. "O tráfico seduz, porque o dinheiro vem fácil", afirma o especialista. M.R.G. começou a fumar maconha dois anos atrás, quando tinha 14. Na mesma época, passou a traficar para sustentar o vício. "Tirava até R$ 800 por noite na biqueira (ponto de venda de droga)", diz. Com dinheiro fácil, comprava tênis, relógios e roupas de marca. "Nunca faltava nada." Aos 15 anos, o garoto parou de estudar. Foi quando a polícia invadiu sua casa no Jardim Santo Antonio, zona norte, e encontrou 400 pintos de cocaína e uma espingarda calibre 12. Foram seis meses na Fundação Casa. Saiu e, meses depois, voltou a ser flagrado com droga: meio quilo de maconha e 210 pinos de cocaína. Nova temporada na antiga Febem. M.R.G. abandonou a internação há duas semanas, mora com o padrasto - a mãe está presa por tráfico - e atualmente cumpre medida socioeducativa. "Não quero mais essa vida. Não compensa a dor de cabeça", ensina. Nem sempre, porém, a punição do Estado consegue demover o jovem do mundo do crime. R.H.B., 17 anos, coleciona mais passagens policiais do que muitos criminosos experientes: são duas por roubo, quatro por tráfico e uma por homicídio. Aos 16 anos, o adolescente matou um desafeto que disputava com ele a venda de drogas no Eldorado, zona norte. "Era eu ou ele", afirma o jovem, sem dar detalhes. Pelo crime, passou um ano e quatro meses na Fundação Casa. Saiu no fim do ano passado. Se pretende abandonar essa vida? "Ah, aí fica difícil, hein!" E encerra a conversa.

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