26 de fevereiro de 2013

Professores sofrem agressões


Gazeta do Povo, 26/3/2013

Cerca de 4 mil docentes de ensino fundamental disseram ter sido agredidos fisicamente por estudantes dentro de colégios. O contrário também ocorre
Atingido na cabeça por um pequeno vaso de plantas, o professor de História Antônio Mário Cardoso da Silva foi para o pronto-socorro e fez boletim de ocorrência. O autor da lesão corporal: um aluno. A agressão aconteceu numa escola pública de Diadema, na Grande São Paulo, há cerca de um ano, e foi presenciada pela mãe do estudante. Horas antes, o jovem, do 6.º ano do ensino fundamental, havia sido repreendido por Silva por mau comportamento. Se fosse um objeto maior, ele poderia ter me matado , diz o professor.
Os casos de agressão física entre professores e alunos têm se repetido nas escolas públicas e privadas de todo o país. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC) tabulados pela Fundação Lemman e pela Meritt Informação Educacional, 4.195 professores de Língua Portuguesa e Matemática que dão aulas para alunos de 5.º e 9.º ano do ensino fundamental disseram que foram agredidos fisicamente por estudantes dentro de colégios em 2011. O número representa 1,9% dos 225 mil docentes que responderam a questionário aplicado durante a Prova Brasil, exame realizado pelo MEC.
Professora por 23 anos, Nádia de Souza Barbosa, de 56 anos, foi agredida por um aluno de 5.ª série, que bateu a porta da sala três vezes em suas costas. Dias depois, foi ameaçada pelo irmão do aluno e a parede da sala de aula foi pichada com o desenho de um fuzil. Segundo Nádia, na escola pública onde ela dava aulas, na zona sul do Rio de Janeiro, por diversas vezes alunos jogavam urina nos professores do alto de uma escada. Nádia acabou aposentada. O médico me diagnosticou com depressão, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático. Fiquei mais de dois anos em tratamento , disse a professora de História.
Segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) entre 2008 e 2011 foram recebidas 157 denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças em escolas paulistas.
Inversão
Mas também há casos de agressões contra alunos. No questionário, 3.327 docentes (1,5%) relataram que em 2011 houve agressão física contra aluno cometida por professor na escola em que atuavam.
Foi o que aconteceu com uma aluna de 11 anos de uma escola municipal do Rio em 2010, quando um professor jogou um apagador no rosto dela durante a aula. O caso foi noticiado pela imprensa, e o professor foi transferido para outra escola. A família desistiu de entrar com ação por danos morais por temer represálias e transferiu a garota para um colégio longe de casa.
Conflitos pequenos viram bola de neve
As escolas precisam aprender a lidar melhor com conflitos, aproximar-se mais da realidade dos alunos e investir em formação de professores, para que casos de violência diminuam, na opinião de especialistas.
Para Miriam Abramovay, autora de livros sobre violência na escola e coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, as escolas não estão conseguindo vencer a cultura da violência e não têm um diagnóstico sobre as razões de tantos conflitos no ambiente educacional.
A escola é muito defasada em relação à realidade dos alunos. Temos uma educação do século 19 para alunos do século 21, com uma linguagem que não chega aos jovens. A escola é chata e entediante para os alunos. E isso cria conflitos , diz Miriam.
Ponta do iceberg
O pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Renato Alves afirma que muitas vezes as escolas não dão a devida atenção a violências menores que acontecem em sala de aula, e elas acabam se transformando em algo maior. A violência física é a ponta de um iceberg de outras violências que acontecem e não são tratadas. Ninguém dá um soco do nada. Começa com olhares, xingamentos e empurrões. Se o professor pede algo para o aluno e ele responde de forma atravessada, ou se o professor responde de forma atravessada, isso vira uma bola de neve , afirma.

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