18 de julho de 2013

Antes refúgios, cidades do interior veem taxas de homicídio crescer até 68%



Publicação: 18/07/2013 07:22 Atualização:

O interior do Brasil já foi um refúgio seguro para moradores aterrorizados pela violência dos grandes centros. Nas duas últimas décadas, no entanto, o índice de homicídios fora das capitais cresceu 81,4%. A interiorização da violência se deu sobretudo nos anos 2000, quando os municípios com população de até 100 mil pessoas, que concentram 45,3% da população do país, tiveram crescimentos no índice de assassinatos de 37,5% (para os de até 5 mil habitantes) a 67,9% (20 e 50 mil habitantes). No mesmo período, as 38 maiores cidades do país, com mais de 500 mil moradores, reduziram em 28,3% o número de assassinatos. Os dados fazem parte do Mapa da Violência 2013, Homicídios e Juventude no Brasil, publicado hoje pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela).
Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da área de violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e pesquisador do Cebela, cita três fatores como predominantes para a pulverização da violência pelo interior do Brasil: o esgotamento de grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, que passaram a ter custos mais elevados, empurrando novos investimentos e fluxos migratórios para o interior; o reforço da segurança nas grandes regiões metropolitanas, com o Plano Nacional de Segurança Pública, de 1999, e o Fundo Nacional de Segurança Pública, de 2000; por fim, a melhoria nos registros e estatísticas de mortalidade na pequenas cidades, que reduziu a subnotificação dos homicídios.
“O aparelho do Estado ainda responde ao modelo de desenvolvimento anteior, principalmente na área de segurança, que é mal aparelhada, com poucas condições materiais e de recursos para enfrentar novos desafios”, explica Waiselfisz, que complementa: “Hoje, os novos fenômenos de violência estão nas zonas de fronteira, com atuação de grandes organizações de contrabando de drogas e armas, e na região do Arco do Desmatamento Amazônico (Mato Grosso, Pará e Rondônia), onde mega empreendimentos agroindustriais causam grilagem de terra, estímulo a madeireiros ilegais e o extermínio de populações indígenas”.
O Mapa da Violência 2013 também cita como novas "constelações de municípios com geração de violência” os que possuem turismo predatório, na orla marítima, e os em que persistem os currais políticos, com presença do coronelismo e pistolagem.
Vítimas são negros, jovens e das periferias
“Em todas as regiões, dos grandes centros às zonas rurais, os jovens continuam sendo a população mais vulnerável”, enfatiza Jorge Werthein, presidente do Cebela. Em 2011, de acordo com o estudo, os homicídios foram responsáveis por 39,3% das mortes na faixa dos 15 a 24 anos, enquanto para o restante da população (menos de 15 anos e mais de 24), o índice foi de 3%, 13 vezes menor. Segundo Werthein, a vulnerabilidade do jovem é um fenômeno global, mas com diferenças significativas: “Para cada jovem que morre em um país europeu, como Espanha ou Holanda, morrem 50 no Brasil e, em alguns municípios, são 100 ou 150”, alerta.
Julio Jacobo Waiselfisz detalha o perfil das vítimas da violência: “É como em uma tragédia grega, o perfil está perfeitamente definido: são meninos pobres, das periferias urbanas e, em geral, negros. O mapa evidencia o processo crescente de vitimização da negritude no Brasil”. Segundo ele, entre 2002 e 2011 houve um crescimento da vitimização negra sobre o branco, passando de 50% para mais de 150%. “Isso quer dizer, basicamente, que para cada branco que morre assassinado, morrem três negros. E a tendência é de crescer, o que é preocupante”, lamenta.
O pesquisador explica que não há um caminho fácil para mudar o panorama da violência no Brasil. "Temos uma série de entraves estruturais e institucionais, como a acentuada cultura da violência, a elevada dose de impunidade e a tolerância à violência nas instituições que deveriam proteger os setores mais vulneráveis da sociedade", conclui

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