26 de setembro de 2013

Enem tem adesão das 59 universidades federais do País


É a primeira vez que isso acontece desde 1998, quando o exame foi criado para avaliar a qualidade do ensino médio no País. Nesta edição, prova terá 7,1 milhões de candidatos

24 de setembro de 2013 | 7h 48

Paulo Saldaña, Victor Vieira e Guilherme Soares Dias/Especial para o Estado
Quinze anos após a criação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e cinco anos depois de sua transformação em vestibular, pela primeira vez todas as 59 universidades federais do País vão adotar a prova como processo seletivo - ou parte dele - de novos alunos. Mesmo com histórico de graves falhas, o Enem se consolidou e atingiu o recorde de 7,1 milhões de inscritos neste ano.

 - Fábio Motta/Estadão
Fábio Motta/Estadão
De 2010 para o primeiro semestre de 2013, o número de vagas no ensino superior disponíveis para quem prestou o Enem cresceu quase três vezes, chegando a 129.319 cadeiras, todas em instituições públicas. E a adesão ao exame deve avançar mais. Onze federais que utilizam o Enem como parte do processo seletivo já manifestaram interesse oficial em aderir em 2015 ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), plataforma digital que reúne as vagas.
“A aceitação em relação ao exame aumentou. Mas o desafio logístico ainda é grande, tanto que ainda não se consegue fazer duas edições por ano”, afirma Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) e responsável pela prova.
Histórico conturbado. O Enem foi criado em 1998 para avaliar o ensino médio, sem grande divulgação ou quantidade de inscritos. Em 2009, o exame passou pela maior transformação, quando o MEC mudou a avaliação - do número de questões ao método de correção - e o exame ganhou status de vestibular para universidades públicas. Por causa dos problemas nos três primeiros anos, como o vazamento de questões revelado pelo Estado em 2009, a adoção do Enem como processo seletivo pelas instituições não foi tão rápida quanto o MEC esperava.
No primeiro ano do Sisu, em 2010, só 51 instituições de ensino superior eliminaram seus vestibulares e usaram a nota do Enem - entre essas, apenas 23 universidades. O total de instituições chegou a 83 em 2011, 95, em 2012, e, no ano seguinte, 101. Quanto mais vagas e instituições de peso no sistema, maior interesse dos alunos. “A procura mostra a demanda de acesso ao ensino superior”, diz o presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa.
Parâmetro universal. Para especialistas, o Enem avança na proposta pedagógica, ao exigir aplicação de conhecimentos em situações práticas, capacidades crítica e interpretativa, além da conexão entre conteúdos. “Os vestibulares cobravam memorização, truques e acúmulo de conhecimentos. É preciso desenvolver o raciocínio”, diz o presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional, Ruben Klein.
Outra vantagem é a mobilidade propiciada pelo Sisu, que permite aos candidatos tentar cadeiras em outras cidades, sem gastos com deslocamento ou taxas de inscrição. “É o formato adotado na Europa e nos Estados Unidos”, afirma o professor da Universidade Federal da Bahia Cipriano Luckesi, especialista em avaliação. Além disso, as notas de corte de cada curso são fechadas diariamente, mesmo enquanto o processo seletivo está aberto. Assim, é possível testar em quais carreiras e instituições é possível ser aprovado.
Segundo o diretor do Cursinho da Poli, Gilberto Alvarez, o Giba, mesmo que em São Paulo as três universidades estaduais - Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) - não usem o Enem, a prova já tem a mesma importância que os demais vestibulares na preparação dos alunos.
“Virou prioridade do mesmo tamanho que a Fuvest (que seleciona para a USP). A adesão das federais de São Carlos e São Paulo e de institutos federais fez com que o aluno começasse a entender o universo do Enem”, afirma Giba.
Preparação. Apesar das possibilidades de escolha, muitos perseguem o sonho da vaga perfeita. Victor Henrique Alves, de 19 anos, preferiu fazer mais um ano de cursinho para tentar Economia em uma instituição de ponta. Ele fez o Enem em 2012, não teve nota nas instituições preferidas e voltou ao preparo. “O ano passado foi de experiência. O Enem não é difícil, exige do aluno, mas pega mais pelo cansaço. Por isso, quem já fez tem chance de se sair melhor.”
Alves não está só no grupo dos que repetem a experiência. Dos 7,1 milhões de inscritos no próximo Enem, 54% - 3,8 milhões - já participaram de uma ou mais edições, segundo o Inep. O dado confirma o Enem muito mais como vestibular do que avaliação do ensino médio. Na Fuvest, por exemplo, 61% dos aprovados em 2012 já haviam feito a prova. Nos cursos mais concorridos, o porcentual é ainda maior: em Medicina, 84,4% dos aprovados já haviam feito a prova.
Com isso, o Enem tem atraído cada vez mais alunos que ainda nem se formaram no ensino médio - tendência também em vestibulares. Em 2009, os inscritos com 16 anos ou menos eram 5,66% do total. Neste ano, já são 11% dos inscritos - ou 759 mil estudantes. Embora não seja o maior grupo, esse porcentual subiu, proporcionalmente, 87%.
Aluna do 3.º ano do ensino médio na Escola Técnica Zona Sul, Francielle Santos, de 17 anos, já tem experiência com vestibulares. Em 2012, prestou Enem, Fuvest e Unesp como treino. “Fui melhor no Enem, acho que a prova é menos ‘conteudista’”, diz ela, que busca vaga em Engenharia Química. Boa aluna da rede pública, sabe que deve se esforçar para competir com egressos das privadas. Se tiver sucesso, será a primeira da família a chegar à universidade.

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