Folha de S.Paulo, 14,9,2013
SÃO PAULO - O filme é conhecido. O Brasil vive seu bônus demográfico. Com fecundidade cadente e expectativa de vida ascendente, acabamos de superar a marca dos 200 milhões de habitantes. Estima-se que a população deverá ainda crescer mais ou menos até 2040 e, a partir daí, começará a cair. Projeta-se para então uma fecundidade de 1,5, bem abaixo dos 2,1 necessários para repor as pessoas que morrem.
Não há muita dúvida de que o roteiro seja esse. Vários países desenvolvidos já passaram por isso e, hoje, discutem o que fazer para manter o dinamismo econômico e a viabilidade de seus sistemas previdenciários. Mas será que é isso mesmo?
Alguns especialistas sugerem que a história pode trazer surpresas. Mikko Myrskylä, do Instituto Max Planck para Pesquisa Demográfica, crê que, à medida que os países atingem os níveis ótimos de desenvolvimento --IDH, que vai de 0 a 1, aproximando-se e ultrapassando o 0,9--, a fecundidade para de cair e volta a subir. Uma combinação de mudanças culturais com a bonança material estaria na origem do fenômeno.
Inspirado nos trabalhos de Myrskylä, o economista Peter Berezin, ex-FMI, ex-Goldman Sachs, hoje na BCA Research, fez circular na internet um artigo bombástico com o título "A chegada de um baby boom' nas economias desenvolvidas". No texto, ele afirma que os países desenvolvidos estão prestes a experimentar um período de alta natalidade, mais intenso e duradouro do que o que se seguiu à Segunda Guerra. Diz também que as projeções de longo prazo dos governos estão todas erradas por subestimar o aumento populacional.
A exuberância das previsões de Berezin contrasta com o tom bem mais comedido dos trabalhos de Myrskylä, que se limita a afirmar que a magnitude do envelhecimento populacional nos países ricos pode ter sido exagerada e antecipar uma transição demográfica mais suave. Seja como for, a discussão está lançada.
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