Inspiradas em escolas dos EUA, alterações incluem mais tempo de treinamento em hospitais universitários
CLÁUDIA COLLUCCI Folha de S.Paulo, 13/9/2012DE SÃO PAULOEstudantes de medicina da USP serão avaliados por grupo de especialistas internacionais no segundo, quarto e sexto ano. Caso não se saiam bem, vão repetir o exame. Também terão mais aulas práticas em hospitais.
A proposta, inspirada em escolas americanas, integra uma série de mudanças curriculares que têm sido discutidas na centenária Faculdade de Medicina da USP e devem vigorar a partir de 2015.
Representantes de faculdades médicas americanas e canadenses já fizeram duas visitas à USP, entrevistando alunos e professores.
Entre as propostas está a ampliação do internato de dois para três anos. Nessa última fase do curso, o aluno é treinado para diferentes serviços dentro do hospital.
Está sendo estudada ainda a unificação de disciplinas básicas e clínicas e medidas para maior fluência do inglês.
Tudo isso com um objetivo: colocar a FMUSP entre as 50 melhores do mundo. Hoje ela está entre 100ª e a 150ª posição nos principais rankings.
No RUF (Ranking Universitário Folha), publicado segunda-feira, o ensino no curso de medicina da USP só perde para o da Unifesp porque seus alunos não fizeram o Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).
Segundo José Otávio Costa Auler Júnior, vice-diretor da faculdade, as mudanças vão possibilitar intercâmbios com universidades no exterior.
"O atual currículo é muito engessado. Nosso estudante quando vai para fora não consegue os créditos correspondentes das disciplinas."
Uma das queixas dos alunos é o excesso de disciplinas teóricas dissociadas das clínicas. Na Universidade de Michigan (EUA), por exemplo, o estudo de anatomia é feito no setor de radiologia.
"Fica mais fácil entender a reconstrução anatômica por meio de uma imagem tomográfica do que olhando para uma peça isolada do corpo humano", diz Auler, que discute incluir essa inovação na mudança curricular.
Segundo ele, novas tecnologias precisam ser incorporadas ao ensino. "A comunidade estudantil quer participar mais da formação."
RESISTÊNCIA
Para Milton Arruda Martins, professor de clínica médica da USP, a concentração de disciplinas básicas e clínicas deve otimizar o tempo do aluno e evitar repetições.
Mas as propostas já enfrentam resistências. Professores temem perder espaço com a mudança curricular. "Tirar as pessoas da zona de conforto incomoda", diz Martins.
Entre esses requisitos estão, por exemplo, professores renomados e bem qualificados, grande presença de alunos e de docentes estrangeiros, boa produtividade científica e aulas em inglês.
Ao fazer mudanças na sua grade curricular com foco em avaliação de especialistas internacionais e de maior fluência em inglês, a Faculdade de Medicina da USP mostra uma clara preocupação de se colocar entre as instituições de elite do mundo.
É isso que universidades chinesas, por exemplo, já têm feito há alguns anos, com bons resultados.
CHINA
A Universidade de Pequim já chegou ao 46º lugar no último ranking THE (Times Higher Education), o principal da atualidade. A USP está em 158º na mesma listagem.
O engessamento da grade curricular dos cursos de graduação do país, especialmente de medicina, ficou claro com o lançamento do programa federal Ciência sem Fronteiras, que tem o objetivo de enviar 100 mil alunos ao exterior até 2014. Cerca de metade já viajou pelo programa.
No caso específico de medicina, os alunos do programa federal que foram para o exterior encontraram um modelo de grade que permite a escolha das disciplinas que se pretende cursar, bem diferente do modelo brasileiro.
REPETIU O RECURSO
Alguns estudantes ficaram sem saber quais disciplinas deveriam cursar. Parte deles não conseguiu equivalência dos créditos feitos ao retornar ao Brasil --e acabou repetindo um ano do curso.
As universidades brasileiras precisam repensar sua grade curricular rígida, que não permite que os alunos façam opções, e seu formato de aulas expositivas em período integral se quiserem competir internacionalmente com outras instituições.
São algumas das queixas de alunos de medicina da USP que aparecem em questionário feito em 22 escolas médicas do país.
Segundo a médica Patrícia Tempski, a falta de tempo é uma queixa constante na USP, do primeiro ao último ano do curso, e é pior entre as mulheres.
Maria Beatriz de Paula, aluna do quarto ano da FMUSP, concorda e diz que, por conta de um curso excessivamente teórico, os alunos se sentem pouco motivados. "Nos é exigido frequentar aulas morosas, mal elaboradas, demasiadamente extensas."
Para ela, o modelo de ensino adotado hoje não se adequa à sua geração, acostumada a ter "grande interação e proatividade em relação ao mundo".
"Os alunos se sentem mais motivados em aprender quando há sentido e possibilidade de uso do que nos está sendo exposto. É imprescindível a contextualização das disciplinas. Nosso currículo precisa ser coerente com a realidade do nosso país."
Engessada, grade curricular no Brasil deveria ser repensada
SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULOAvaliações internacionais de universidades se baseiam em critérios que devem estar presentes em universidades "world class", ou seja, que têm nível internacional.Entre esses requisitos estão, por exemplo, professores renomados e bem qualificados, grande presença de alunos e de docentes estrangeiros, boa produtividade científica e aulas em inglês.
Ao fazer mudanças na sua grade curricular com foco em avaliação de especialistas internacionais e de maior fluência em inglês, a Faculdade de Medicina da USP mostra uma clara preocupação de se colocar entre as instituições de elite do mundo.
É isso que universidades chinesas, por exemplo, já têm feito há alguns anos, com bons resultados.
CHINA
A Universidade de Pequim já chegou ao 46º lugar no último ranking THE (Times Higher Education), o principal da atualidade. A USP está em 158º na mesma listagem.
O engessamento da grade curricular dos cursos de graduação do país, especialmente de medicina, ficou claro com o lançamento do programa federal Ciência sem Fronteiras, que tem o objetivo de enviar 100 mil alunos ao exterior até 2014. Cerca de metade já viajou pelo programa.
No caso específico de medicina, os alunos do programa federal que foram para o exterior encontraram um modelo de grade que permite a escolha das disciplinas que se pretende cursar, bem diferente do modelo brasileiro.
REPETIU O RECURSO
Alguns estudantes ficaram sem saber quais disciplinas deveriam cursar. Parte deles não conseguiu equivalência dos créditos feitos ao retornar ao Brasil --e acabou repetindo um ano do curso.
As universidades brasileiras precisam repensar sua grade curricular rígida, que não permite que os alunos façam opções, e seu formato de aulas expositivas em período integral se quiserem competir internacionalmente com outras instituições.
Alunos criticam carga horária e teórica excessiva
DE SÃO PAULOCarga horária excessiva, muita repetição de disciplinas teóricas e falta de tempo para as atividades extra curriculares.São algumas das queixas de alunos de medicina da USP que aparecem em questionário feito em 22 escolas médicas do país.
Segundo a médica Patrícia Tempski, a falta de tempo é uma queixa constante na USP, do primeiro ao último ano do curso, e é pior entre as mulheres.
Maria Beatriz de Paula, aluna do quarto ano da FMUSP, concorda e diz que, por conta de um curso excessivamente teórico, os alunos se sentem pouco motivados. "Nos é exigido frequentar aulas morosas, mal elaboradas, demasiadamente extensas."
Para ela, o modelo de ensino adotado hoje não se adequa à sua geração, acostumada a ter "grande interação e proatividade em relação ao mundo".
"Os alunos se sentem mais motivados em aprender quando há sentido e possibilidade de uso do que nos está sendo exposto. É imprescindível a contextualização das disciplinas. Nosso currículo precisa ser coerente com a realidade do nosso país."
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