Folha de S.Paulo, 12/9/2013
Ontem foi o 40º aniversário do golpe militar que derrubou Salvador Allende, no Chile.
Peter Kornbluh acaba de publicar uma edição atualizada de seu livro "The Pinochet File - A Declassified Dossier on Atrocity and Accountability". Kornbluh dirige o projeto de documentação sobre o Chile do Arquivo de Segurança Nacional, em Washington.
O arquivo é um instituto de pesquisa e uma biblioteca não governamentais que funciona na Universidade George Washington. Fundado em 1985, ele recolhe e publica documentos sigilosos liberados nos termos da Lei de Liberdade de Informação dos EUA (Foia, na sigla em inglês). O centro fez mais de 40 mil solicitações de documentos sob a Foia, e é bancado pelas fundações Ford, Hewlett, Knight, MacArthur e Open Society, bem como por particulares.
A questão-chave no livro de Kornbluh é a Operação Condor. Também aborda o atentado com um carro-bomba que matou Orlando Letelier e Ronni Moffitt em Washington, em setembro de 1976.
"The Condor Years", livro de John Dinges, também trata das guerras sujas do Chile e da Argentina. Ex-correspondente do "Washington Post" e hoje professor na Universidade Columbia, Dinges participará do Festival de História de Diamantina (MG), na semana que vem.
Kornbluh escreveu um novo posfácio, intitulado "A resposta de Kissinger". Nele, publica o "cabograma desparecido" descoberto pelo pesquisador Carlos Osorio em um banco de dados eletrônico contendo milhares de documentos do Departamento de Estado que deixaram de ser considerados sigilosos.
"Ações realizadas em resposta ao memorando Condor de 1º de agosto", datado de 16/9/1976, é a instrução "desaparecida" de Kissinger para rescindir a abordagem diplomática a líderes dos países Condor da América do Sul, uma abordagem empreendida "a fim de evitar uma série de homicídios internacionais".
O assassinato de Letelier e Moffitt aconteceu em Washington em 21/9/1976, um dia depois que as instruções foram retransmitidas tal como ordenou Kissinger. Foi o mais sério ato de terrorismo internacional em solo dos EUA até o ataque às torres gêmeas em outro 11 de setembro, o de 2001.
Kissinger disse a Patricio Carvajal, ministro do Exterior de Pinochet, que "o Departamento de Estado é feito de pessoas que têm vocação para o sacerdócio. Porque não há igrejas suficientes para todos, eles entram para o Departamento de Estado".
Na realidade, muitos dos funcionários do departamento eram homens honrados, que se sentiam profundamente perturbados diante das políticas de seus líderes. O comentário desdenhoso de Kissinger diz muito sobre seu corrosivo cinismo.
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