Professora de Harvard, Claudia Costin palestrou em evento para diretores de escolas JONATHAN HECKLER/JONATHAN HECKLER/JC Suzy Scarton
O Brasil vive uma grande crise de aprendizagem, em que as crianças estão escolarizadas, mas não estão aprendendo. Segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional, um levantamento do Instituo Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa com apoio do Ibope, 27% da população brasileira entre 15 e 64 anos é analfabeta funcional.
Na zona rural, o percentual aumenta para 41%. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2016, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o Brasil tem 12,9 milhões de analfabetos, um total de 8% da população, taxa que varia de acordo com a idade do entrevistado (entre os jovens de 15 a 19 anos, a taxa é de 0,8%; e entre pessoas com mais de 60 anos, o índice sobe para 22,3%).
O Pnad também mostra que a taxa de brasileiros com mais de 15 anos que tiveram menos de quatro anos de estudo formal, considerados analfabetos funcionais, era de 17,1% em 2015. Por sua vez, a taxa de crianças de 4 a 5 anos que frequentavam a escola em 2015 era de 84,3%; de 6 a 14 anos, de 98,6%; e de 15 a 17 anos, de 85%. Isso mostra que, embora os governos tenham se mobilizado mundialmente para ampliar o acesso à escolarização mesmo em países subdesenvolvidos, o processo de aprendizagem ainda carece de melhorias. Há motivos claros que justificam essa falha.
Parte da responsabilidade é dos professores. A diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro e professora convidada na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Claudia Costin, aponta que o pouco crédito dado a estudantes de baixa renda é um dos motivos que contribuem para com essa defasagem do aprendizado. "Quando a criança não tem suporte familiar, a escola tem que agir. Não se desiste de uma criança. Pobreza não é destino. O pior que se pode fazer é não apostar na capacidade dessas crianças", acredita. Além disso, Claudia também critica o modelo de formação de professores, focado na teoria da educação, que falha no ensino da didática e do preparo específico para a sala de aula. Ela também cita a discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular como uma oportunidade para que as universidades possam repensar os currículos de formação de professores. As constantes mudanças pelas quais o País e o mundo passam também estão entre os motivos.
Uma vez que a demanda por competências rotineiras decresce, substituídas por máquinas e robôs, o modelo de escola atual se torna ultrapassado. "Essa escola que não ensina a pensar não era um problema quando o estudante era formado para a performance de atividades repetitivas. Agora, existe uma demanda por competências mais complexas, que exigem que o cidadão saiba pensar", argumenta a professora. Para ela, a formação de um cidadão crítico, que saiba "entender notícias lidas no jornal e capaz de duvidar do que lhe é exposto" é o que deve ser almejado por um professor. Em 2015, a ONU definiu novas metas a serem alcançadas até 2030 - entre elas, assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Para atingir esse objetivo, Claudia elenca novas tendências que vêm sendo aplicadas em países com índices mais altos. Uma delas é focar na resolução de problemas e em criatividade. Considerando que o currículo básico de um aluno do Ensino Médio no Brasil consiste, em média, em 13 disciplinas ensinadas em quatro horas/aula, não sobra tempo para ensinar o enfrentamento de problemas, que também trabalham competências socioemocionais de crianças e adolescentes, como persistência, empatia e autonomia.
Além disso, a ex-secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, que esteve em Porto Alegre a convite do Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe-RS), acredita que as ferramentas tecnológicas disponíveis proporcionam um ensino personalizado, baseado no déficit pessoal de cada um. A ideia de uma reforma do Ensino Médio, proposta pelo governo de Michel Temer, que transforma o aluno em "protagonista da própria vida" é vista com bons olhos por Claudia. "O jovem não precisa de um currículo enciclopédico. Ele também não deve ser tratado como criança. Temos de confiar que ele tem a capacidade de construir um projeto de vida - e o papel da escola é ensinar a ele como trilhar um caminho para chegar lá", alega. -
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/06/geral/566195-brasil-vive-crise-de-aprendizagem.html)
O Brasil vive uma grande crise de aprendizagem, em que as crianças estão escolarizadas, mas não estão aprendendo. Segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional, um levantamento do Instituo Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa com apoio do Ibope, 27% da população brasileira entre 15 e 64 anos é analfabeta funcional.
Na zona rural, o percentual aumenta para 41%. Já a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2016, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o Brasil tem 12,9 milhões de analfabetos, um total de 8% da população, taxa que varia de acordo com a idade do entrevistado (entre os jovens de 15 a 19 anos, a taxa é de 0,8%; e entre pessoas com mais de 60 anos, o índice sobe para 22,3%).
O Pnad também mostra que a taxa de brasileiros com mais de 15 anos que tiveram menos de quatro anos de estudo formal, considerados analfabetos funcionais, era de 17,1% em 2015. Por sua vez, a taxa de crianças de 4 a 5 anos que frequentavam a escola em 2015 era de 84,3%; de 6 a 14 anos, de 98,6%; e de 15 a 17 anos, de 85%. Isso mostra que, embora os governos tenham se mobilizado mundialmente para ampliar o acesso à escolarização mesmo em países subdesenvolvidos, o processo de aprendizagem ainda carece de melhorias. Há motivos claros que justificam essa falha.
Parte da responsabilidade é dos professores. A diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro e professora convidada na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Claudia Costin, aponta que o pouco crédito dado a estudantes de baixa renda é um dos motivos que contribuem para com essa defasagem do aprendizado. "Quando a criança não tem suporte familiar, a escola tem que agir. Não se desiste de uma criança. Pobreza não é destino. O pior que se pode fazer é não apostar na capacidade dessas crianças", acredita. Além disso, Claudia também critica o modelo de formação de professores, focado na teoria da educação, que falha no ensino da didática e do preparo específico para a sala de aula. Ela também cita a discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular como uma oportunidade para que as universidades possam repensar os currículos de formação de professores. As constantes mudanças pelas quais o País e o mundo passam também estão entre os motivos.
Uma vez que a demanda por competências rotineiras decresce, substituídas por máquinas e robôs, o modelo de escola atual se torna ultrapassado. "Essa escola que não ensina a pensar não era um problema quando o estudante era formado para a performance de atividades repetitivas. Agora, existe uma demanda por competências mais complexas, que exigem que o cidadão saiba pensar", argumenta a professora. Para ela, a formação de um cidadão crítico, que saiba "entender notícias lidas no jornal e capaz de duvidar do que lhe é exposto" é o que deve ser almejado por um professor. Em 2015, a ONU definiu novas metas a serem alcançadas até 2030 - entre elas, assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Para atingir esse objetivo, Claudia elenca novas tendências que vêm sendo aplicadas em países com índices mais altos. Uma delas é focar na resolução de problemas e em criatividade. Considerando que o currículo básico de um aluno do Ensino Médio no Brasil consiste, em média, em 13 disciplinas ensinadas em quatro horas/aula, não sobra tempo para ensinar o enfrentamento de problemas, que também trabalham competências socioemocionais de crianças e adolescentes, como persistência, empatia e autonomia.
Além disso, a ex-secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, que esteve em Porto Alegre a convite do Sindicato do Ensino Privado do RS (Sinepe-RS), acredita que as ferramentas tecnológicas disponíveis proporcionam um ensino personalizado, baseado no déficit pessoal de cada um. A ideia de uma reforma do Ensino Médio, proposta pelo governo de Michel Temer, que transforma o aluno em "protagonista da própria vida" é vista com bons olhos por Claudia. "O jovem não precisa de um currículo enciclopédico. Ele também não deve ser tratado como criança. Temos de confiar que ele tem a capacidade de construir um projeto de vida - e o papel da escola é ensinar a ele como trilhar um caminho para chegar lá", alega. -
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/06/geral/566195-brasil-vive-crise-de-aprendizagem.html)
Nenhum comentário:
Postar um comentário