POR ANTÔNIO GOIS
Justamente onde os alunos mais precisam, há menos ações de reforço e conversas entre pais e professores para resolverem problemas de aprendizagem
Os dados dos questionários da Prova Brasil respondidos por diretores de escolas públicas do país - divulgados hoje pela Fundação Lemann com um recorte por nível socioeconômico dos alunos atendidos – comprovam com mais detalhes o que outros estudos já haviam identificado: damos aos estudantes mais pobres, justamente os que mais precisam, escolas também mais pobres em termos de infraestrutura, qualidade do corpo docente, experiência do diretor, entre outras variáveis.
A constatação pode soar óbvia, mas esse é um dado que não pode de maneira alguma ser naturalizado, pois mostra que continuamos produzindo desigualdade em nosso sistema de ensino, em vez de corrigir ou ao menos amenizar o problema. Vale lembrar que a pesquisa é restrita a diretores de escolas públicas. Se fossem incluídos no levantamento as condições de ensino em escolas particulares e o perfil do aluno atendido por essas instituições, o quadro seria ainda mais grave.
Como estamos falando do total de escolas públicas do país, as diferenças entre a qualidade das escolas públicas refletem desigualdades regionais históricas. Mas sabemos por outros estudos que essas discrepâncias na qualidade do ensino recebido por estudantes mais ricos e mais pobres acontecem também dentro do mesmo estado, de um município e, às vezes, até mesmo dentro de uma escola.
Justamente por virem de famílias mais pobres, alunos de menor nível socioeconômico tendem a ter desempenho inferior em testes de aprendizagem. Essa desvantagem, que nada tem a ver com o mérito do estudante, é agravada quando identificamos que a experiência desses alunos é também mais precária. Os dados da Prova Brasil tabulados pela Fundação Lemann revelam, por exemplo, que nas escolas que atendem alunos de maior nível socioeconômico, os professores conversam mais com os estudantes para resolver problemas de faltas e as famílias são chamadas com mais frequência para reuniões de pais ou para conversar individualmente com os estudantes.
Outro dado que chama a atenção é que, apesar de atenderem os alunos que mais precisam desse tipo de abordagem, 19% das escolas com alunos de nível socioeconômico muito baixo relatam não fazer ações de reforço escolar. Entre as escolas que atendem os alunos de maior nível socioeconômico, esse percentual cai para 11%. Ou seja, há menos ações de reforço nas escolas onde elas são mais necessárias. Na mesma linha, 46% diretores de escolas que atendem os alunos mais ricos dizem que sempre ou quase sempre discutem com os professores medidas com o objetivo de melhorar o ensino e a aprendizagem dos alunos. No outro extremo, das escolas com alunos mais pobres, esse percentual é de 17%.
Ainda que tardiamente, o Brasil vem conseguindo nas últimas décadas reduzir desigualdades históricas no acesso à educação básica. O problema é que, uma vez dentro da escola, ainda estamos muito distantes de oferecer a todos ao menos as mesmas oportunidades educacionais.
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