Editorial:
Publicado em: 05/06/2017 Diario de Pernambuco
Assédio sexual ou moral, ameças e agressões físicas. Muitos são os episódios de violência no ambiente escolar. Vários chegam à opinião pública por meio da crônica policial publicada na mídia, seja na capital federal, seja na maioria das cidades. A insegurança dentro e fora das unidades de ensino é a primeira preocupação de 85,2% dos estudantes do ensino médio do país, segundo pesquisa do Movimento Todos pela Educação. A sondagem ouviu 1.551 jovens entre 15 e 19 anos, como parte do estudo Repensar o Ensino Médio.
A falta de segurança não está associada só à ausência de policiais na porta dos estabelecimentos de ensino. Infraestrutura inadequada, como a ausência de iluminação pública, também facilita a ação dos criminosos. Ou seja, é um conjunto de deficiências que oprime a maioria dos cidadãos, estudantes ou não. Mas, quando os limites do ambiente escolar são desrespeitados, sobretudo em áreas mais carentes, e negligenciadas pelo poder público, os danos ganham maior proporção.
Não só estudantes, mas também professores abandonam o colégio, movidos pelo medo de agressões físicas, das reações dos usuários e traficantes de drogas e de outras expressões de violência. O bullying é elemento desencorajador, que leva os adolescentes a deixarem o banco escolar. “A violência e o bullying são uma grave violação do direito à educação”, advertiu Irina Bokova, diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no início deste ano.
Hoje, o jovem cobra um ambiente seguro, com acessibilidade, respeito às pessoas. Esse é o principal recado dos estudantes do ensino médio, segundo Priscila Cruz, presidente-executiva do Movimento Todos pela Educação. Ela destaca que o Brasil avançou na garantia do acesso dos jovens à escola. Mas eles querem mais: 81,3% reivindicam que os professores sejam presentes, sintam paixão pelo que fazem e não desistam dos alunos. Há ainda um sentimento maior de solidariedade e cidadania: 83,1% exigem mais atenção aos que têm deficiência — a segunda maior demanda após mais segurança.
Os dados da pesquisa mostram que os adolescentes estão comprometidos com a melhoria da educação e do ambiente escolar. Não querem moleza. Para 63,3%, a direção e a coordenação dos estabelecimentos devem ser mais rigorosas, o que significa cobrar deles desempenho melhor no processo educacional.
Apesar de todas as dificuldades, o poder público precisa dar respostas positivas às necessidades dos jovens, que não se opõem (76,5%) à substituição de um terço das matérias do ensino médio por disciplinas técnicas à escolha de cada um. Embora aceitem as mudanças recém-aprovadas, não abrem mão do direito de chegar ao ensino superior. Mas a primeira e mais importante providência para que essa escalada da juventude seja proveitosa é a garantia de segurança para alunos e docentes. “Uma cultura de paz é fundamental”, reforça Priscila Cruz.
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