22 de fevereiro de 2013

MOISÉS NAÍM Europa, Síria e ambiente


Folha de S.Paulo, 22/2/2013
Há disparidade entre a necessidade de uma ação conjunta e a capacidade dos países para atuar juntos
EM QUE se parecem a crise econômica europeia, a guerra civil na Síria e o aquecimento global? Ninguém parece ter o poder de detê-los.
As três crises requerem a intervenção de vários países atuando em conjunto, já que nenhuma nação isolada, nem mesmo uma superpotência, pode resolvê-las por conta própria. Além disso, esses problemas se complicam pelo fato de vir diminuindo a capacidade dos países de se colocarem de acordo e atuarem de modo conjunto.
E, ao mesmo tempo em que se reduz a capacidade da comunidade internacional de coordenar sua ação, a globalização faz com que aumentem os problemas que requerem que isso aconteça. Embora os problemas tenham se tornado globais, os acordos políticos necessários para resolvê-los continuam sendo tão locais quanto sempre.
Dificilmente os governos dedicam recursos a problemas fora de suas fronteiras enquanto há muitos problemas sem solução dentro de seus próprios países. Além disso, novas coalizões de países e múltiplos novos atores vêm conquistando o poder de exigir que sua voz seja ouvida e seus interesses sejam representados nas negociações sobre o modo como o mundo procura lidar com seus problemas coletivos.
Inevitavelmente, quando todos esses interesses diferentes e contraditórios são incorporados, os arranjos resultantes refletem o mínimo denominador comum necessário para que seja alcançado um acordo.
E os acordos que são aceitáveis para todos poucas vezes possuem a força suficiente para afetar os problemas de modo significativo. Essa disparidade entre a necessidade crescente de uma ação conjunta e a capacidade menor dos países para atuar coordenadamente é o deficit mais perigoso do mundo.
Na economia, quando a demanda supera a oferta, os preços sobem. Na geopolítica, a incapacidade dos países de satisfazer a demanda por soluções aos problemas que transcendem fronteiras nacionais gera uma instabilidade perigosa.
As crises financeiras ou de saúde pública que se propagam internacionalmente em alta velocidade, a sobrepesca, a exploração da selva tropical, as redes criminosas transnacionais ou a proliferação nuclear constituem alguns poucos exemplos na longa lista de problemas que vão se agravar se não houver mais e melhor cooperação internacional.
O que fazer? Há muitas propostas de como "redesenhar" a governança internacional, reformar as instituições existentes ou criar novas. Tampouco faltam ideias para fazer frente aos problemas globais.
O que falta é o poder para levar as mudanças a cabo e colocar as novas ideias em prática. Esse poder não vai resultar de cúpulas de chefes de Estado, reuniões acadêmicas ou discursos acalorados.
Só haverá uma gestão melhor dos problemas globais quando os cidadãos derem a seus governos o poder de se ocupar de problemas que, embora ainda pareçam distantes, acabarão por ter consequências muito concretas em todos os lares.
Hoje em dia somos todos vizinhos, mesmo que um oceano nos separe.

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