1 de outubro de 2015

MATIAS SPEKTOR A lógica do jogo

Folha de S.Paulo, 1/10/2015
Quando a mudança do clima assustou a classe política em Washington e Pequim, os Estados Unidos e a China saíram de sua pachorra para tomar as rédeas do regime ambiental global.
Agora, os principais jogadores trabalham para evitar que as duas grandes potências lhes entubem um pacote de disciplinas goela abaixo.
O campo de batalha será a negociação de um novo acordo global de mudança do clima em dezembro próximo, em Paris. De olho na rodada que se aproxima, todos começam a mostrar as cartas.
Domingo passado foi a vez do Brasil, cuja "contribuição" nacional é um compromisso voluntário com a redução de emissões de gás de efeito estufa da ordem de 37% até 2025 (com referência a 2005, ano pico das emissões).
O Brasil é um dos últimos grandes países na área ambiental a mostrar suas cartas antes de Paris, mas é um dos únicos a assumir uma meta absoluta de redução de emissões. Isso ajudará a posicioná-lo na partida. Dilma chegará à negociação com alguma alavancagem. Seu país assistiu a uma queda vertiginosa de emissões por desmatamento, produzindo a maior redução de emissões já registrada nos últimos dez anos.
Seu governo emplacou um novo "Cadastro Ambiental Rural", que centraliza o combate ao desmatamento ilegal em Brasília, precondição necessária para fazer frente a fazendeiros, prefeitos e governadores com incentivos para derrubar floresta.
Dilma também mostrará os serviços de energia eólica já contratados que, nos próximos três anos, produzirão mais megawatts que a maior hidrelétrica do país. De quebra, o governo acaba de introduzir mecanismos de mercado para manter a floresta em pé: com Joaquim Levy na dianteira de um lobby emergente, surge uma indústria nacional de reflorestamento.
No entanto, a alavancagem do governo brasileiro em Paris acaba por aí porque sua contribuição ao novo regime global de mudança do clima enfrenta sérios obstáculos.
O combate ao desmatamento ilegal padece de falta de recursos. Na opinião de seus críticos, o novo código florestal enfraqueceu os órgãos de controle. Mais que isso, os incentivos econômicos ajudam a manter as coisas como estão.
Em áreas que demandam a aquisição de tecnologia de ponta, como a da energia solar, as regras vetustas de conteúdo nacional enquistam o país no atraso. Em vez de subsidiar a transição para uma economia de baixo carbono, o BNDES ainda subsidia, sem contrapartida ambiental, indústrias e transportes que empurram na direção contrária.


Isso vai mudar um dia. Quanto mais rápida for a transição, mais cedo haverá benefícios para o cidadão.

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