1 de novembro de 2015

Em questão a qualidade do ensino de escolas privadas




A proverbial baixa qualidade do ensino público básico, sempre aquém do rendimento apresentado pelos estabelecimentos privados, pode induzir ao erro de se considerar o ensino particular de bom nível em si. Mas não é esta a realidade quando ele é comparado com a educação privada em outros países. O mesmo acontece, em certa medida, no âmbito das universidades, em que a USP e UFRJ, por exemplo, são bem situadas em rankings nacionais, porém nem tanto em avaliações internacionais.
A escola privada do ensino básico não é um oásis no mar revolto da problemática educação brasileira. Tabulações do Pisa, teste internacional de que participam jovens de mais de 60 países — e no qual o resultado médio dos brasileiros mantém o país nos últimos lugares —, mostram, por exemplo, que, em certas disciplinas, a qualidade do setor privado do ensino brasileiro não é tão superior à da escola pública de sociedades desenvolvidas (congregadas na OCDE). Isso aconteceu no exame de 2012. E quando comparadas com os estabelecimentos particulares desses países, as escolas privadas nacionais aparecem em situação inferior.
Se é uma visão distorcida condenar todo o ensino público, trata-se do mesmo enaltecer o universo na rede particular em sua totalidade.
Afinal, há problemas comuns a ambos segmentos. Um deles, a formação dos professores. É ilustrativo que 39% dos professores da rede pública, no ensino médio, deem aulas sem ter a devida formação, e que o mesmo aconteça com 35% dos que trabalham nas escolas particulares, índices não muito diferentes, segundo O GLOBO. Parte da explicação para, mesmo assim, haver um aproveitamento melhor do aluno da rede privada é que, pelo seu nível de renda e social, ele tem uma base de formação na família melhor que o aluno da rede pública.
Como, apesar de tudo, o ensino público básico evolui, na atual geração é normal os filhos de famílias mais pobres alcançarem um nível educacional superior ao dos pais. O que não significa que seja o nível ideal, dadas todas as mazelas conhecidas no ensino básico. Mas a distância entre o nível de instrução dos filhos e o dos pais é, nesta geração, obstáculo insuperável, por óbvio.
Um dado a se avaliar são os índices de reprovação nas escolas privadas brasileiras, superiores aos verificados na Europa — embora se aconselhe, por motivos técnicos, a não se fazer comparações rígidas entre os números.
Para se ter uma ideia de ordem de grandeza, enquanto, no ensino médio, na rede particular brasileira, a taxa de reprovação é de 5,5%, na Europa chega a 2,7%. E nos países com os melhores sistemas educacionais do mundo, a reprovação é zero. É preciso, portanto, cuidado com a ideia de que muita reprovação é sinal de ensino de boa qualidade. Não necessariamente, se considerarmos que o propósito da Educação é a inclusão e não a exclusão.

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