9 de novembro de 2015

‘Violência contra mulher se naturalizou’, diz sociólogo

brasil.estadao.com.br


  • August 11th, 2015
BRASÍLIA - O que explica, afinal, a violência de gênero e suas consequências? Para o autor do Mapa da Violência 2015, Julio Jacobo Waiselfisz, sociólogo e coordenador da Área de Estudos Sobre Violência da Flacso, um fator se destaca: a impunidade. “Ano após ano, observamos, com mistura de temor e indignação, que o País vem quebrando suas próprias marcas, numa espiral de violência sem precedentes”, diz, nas considerações finais da pesquisa.
O Sistema Penitenciário Nacional registrava, em 2013, um número estimado de 7.912 presos pelo crime de violência doméstica, representando que apenas 7,4% dos agressores foram condenados ou estão aguardando julgamento – no mesmo ano, 4.762 mulheres foram assassinadas no País.
“Autorização”. Segundo o sociólogo, a violência contra a mulher se naturalizou na sociedade brasileira, inclusive “autorizando” o homem a praticá-la, com a finalidade de “punir” e “corrigir” comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de mãe, mulher e dona de casa.
“Culpa-se a vítima pela agressão sofrida, seja por não cumprir o papel doméstico que lhe foi atribuído, seja por ‘provocar’ a agressão dos homens nas ruas ou nos meios de transporte, por exibir seu corpo ou ‘vestir-se como prostituta’”, afirma Waiselfisz.

Morte de mulheres negras avança 54% em 10 anos

BRASÍLIA - Em um ano, morreram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas no Brasil. Essa é uma das conclusões do Mapa da Violência 2015, que será divulgado nesta segunda-feira, 9, pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), e que, nesta edição, foca na violência de gênero no País.
O estudo foi considerado inovador pela representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, ao revelar a “combinação cruel” que se estabelece entre racismo e sexismo: em uma década (a pesquisa abarca o período de 2003 a 2013), os feminicídios contra negras aumentaram 54%, ao passo que o índice de mortes violentas de mulheres brancas diminuiu 9,8%.
‘Mulheres negras estão expostas à violência direta e indireta, que atinge pessoas próximas’, diz Nadine, da ONU
No total, em 2013, 4.762 mulheres foram assassinadas no País, posicionando-o no quinto lugar no mundo – só está melhor que El Salvador, Colômbia, Guatemala e Federação Russa. Foram 13 homicídios femininos por dia: uma mulher morta a cada 1h50min. É o equivalente a exterminar todas as mulheres em 12 municípios do porte de Borá (SP) ou Serra da Saudade (MG), que têm menos de 400 habitantes do sexo feminino.
“As mulheres negras estão expostas à violência direta, que lhes vitima fatalmente nas relações afetivas, e indireta, àquela que atinge seus filhos e pessoas próximas. É uma realidade diária, marcada por trajetórias e situações muito duras e que elas enfrentam, na maioria das vezes, sozinhas”, diz Nadine.
Os dados, julga ela, denunciam uma “bárbara faceta do racismo”, sendo urgente acelerar respostas institucionais concretas em favor das mulheres negras. O Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20, motivou a escolha do mês de lançamento da pesquisa.
O Mapa da Violência conclui que a população negra é vítima prioritária da violência homicida no Brasil, enquanto as taxas de feminicídio contra a população branca tendem, historicamente, a cair. Em uma década, o índice de vitimização das negras – cálculo que resulta da relação entre as taxas de mortalidade de ambas as raças – cresceu 190,9% em todo o País, número que ultrapassa os 300% em alguns Estados, como Amapá, Pará e Pernambuco.
Diferenças entre Estados. Os Estados com maiores taxas de feminicídio de negras são Espírito Santo, Acre e Goiás. O número de mulheres negras assassinadas só diminuiu em Rondônia e em São Paulo. Nem a Lei Maria da Penha, que entrou em vigor em 2006, foi capaz de encolher a estatística. Depois da promulgação da lei, apenas cinco Estados registraram queda nas taxas.
A vitimização das mulheres negras veio em uma escalada íngreme entre 2003 e 2012, mas sofreu queda em 2013. Ainda é cedo para comemorar, no entanto. Conforme os procedimentos metodológicos do Mapa da Violência, esse aspecto só se configura como real tendência se houver três anos consecutivos de diminuição.
Servidora pública e membro do coletivo Pretas Candangas, de Brasília, Daniela Luciana ressalta que há um tipo de violência contra a mulher negra que não pode ser mensurada em números: a simbólica.
“Somos violentadas desde a hora em que acordamos até a hora de dormir, por conta do estereótipo, da invisibilidade e da pouca presença em espaços de poder”, afirma Daniela. O grupo organiza para o dia 18, na capital federal, a Marcha das Mulheres Negras, pelo fim da violência contra a mulher.
PRINCIPAL AGRESSOR:
Das meninas até 11 anos: Mãe (42,4%).
Das de 12 a 17 anos: Pais (26,5%) e parceiros ou ex-parceiros (23,2%).
De 18 a 59 anos: Parceiros ou ex-parceiros (50%).
Das idosas: Filhos (34,9%).
Em todas as faixas: Parentes, parceiros e ex (67,2%).

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