Primeiro, porque há uma série de interrogações sobre como isso será feito. Qual o perfil de quem será internado à revelia? Haverá ou não o uso da polícia? E a principal questão: o Estado tem condições de fazer esse tratamento? Como?
Isso sem falar no temor de que o novo programa seja só mais uma jogada para mascarar a deficiência do Estado no atendimento dos quase 2.000 moradores da cracolândia.
O assunto é pra lá de delicado. Anunciada com pompa há mais de um mês, a internação compulsória foi definida ontem, de forma reiterada pela assessoria do governador, como a "exceção da exceção". A medida, afirma, deve afetar 1% do universo da cracolândia. Não há dúvidas de que a eficácia do tratamento do usuário de drogas ou álcool à força é bem menor do que quando ele mesmo decide buscar ajuda. E, nos dois casos, a chance de reabilitação é mínima.
Integrantes da ONG Missão Belém, cujo trabalho de convencimento já tirou 400 viciados da cracolândia, temem que o programa de internações compulsórias afugente os dependentes e dificulte esse trabalho de aproximação.
Pode ser. Mas não se pode menosprezar os que, sem ver outra alternativa, apelam à força para resgatar alguém da dependência.
O drama da jovem que misturou calmantes a um suco para dopar o próprio pai em busca de tratamento é uma dessas histórias que não podem ser ignoradas.
É certo que as pesquisas mostram que a internação compulsória é, na grande maioria das vezes, só um alívio de curta duração. Mas quem disse que a jovem que deu calmante para o pai não queria apenas isso -um pouco mais de tempo?
Folha de SP, 22/1/2013
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