Apoio brasileiro sem reservas a chavistas poderá prejudicar os interesses nacionais no futuro
NEstes dias o governo brasileiro estende a mão ao chavismo, à beira de perder o líder.
Comentaristas de todas as estirpes fustigam o Palácio do Planalto por adotar "dois pesos e duas medidas": apoio irrestrito ao governo venezuelano em sua livre interpretação da Constituição, mas porrete severo na oposição paraguaia, que se livrou do presidente em um ato sumário, porém constitucional.
Houve mesmo duas métricas?
Em ambos os casos, o Planalto posicionou-se a favor das forças de esquerda, jogando contra as de direita. Até aí, um peso, uma medida.
Houve, claro, diferenças.
Suspender o Paraguai do Mercosul foi factível porque o país é fraco e dependente.
E Dilma o fez em parte porque isso era prioridade para Cristina Kirchner, para quem há cheiro de "golpe branco" ao redor.
Não seria fácil fazer algo parecido com a Venezuela, que é muito mais forte e independente. Mais exposta, também é verdadeira isca para a atenção norte-americana, que Brasília prefere evitar.
Ao Brasil interessa a estabilidade venezuelana porque dela dependem os fabulosos ganhos ali obtidos por nossos exportadores e empreiteiras.
A estabilidade também interessa porque um ciclo de turbulência em país tão importante poderia afundar na lama o projeto brasileiro de integração regional.
O problema é que o apoio ao chavismo -quando sem reservas nem condições de caráter público- pode atentar contra nossos interesses.
Ao dar fôlego àqueles que descartam toda oposição como "golpista", dificulta a acomodação que o país precisará fazer na transição para um mundo sem Chávez.
Dilma faria um bem se recebesse o vice venezuelano em Brasília, mandasse um emissário visitar a oposição em Caracas, a Obama enunciasse visão própria sobre o futuro do país vizinho e vazasse o conteúdo da conversa para a imprensa. Em passado recente, FHC e Lula fizeram coisas assim com êxito.
Reuniram-se a sós pela primeira vez os chamados assessores de segurança nacional dos Brics.
Via de regra, o assessor de segurança nacional é diplomata, acadêmico ou araponga que, tendo delegação direta de seu presidente, coordena diversas pastas ministeriais em temas de política externa.
No Brasil, o posto não existe. A Secretaria de Assuntos Estratégicos lida primordialmente com políticas públicas internas. A Assessoria Internacional do Planalto redige discursos e acompanha reuniões, mas não tem instrumentos para coordenar a Esplanada dos Ministérios.
Talvez seja hora de rever isso. A agenda externa é complexa demais e a integração entre as pastas relevantes, de menos.
Em certas áreas, a demanda é forte: a presença brasileira no Haiti e na África, a política sul-americana e as agendas de direitos humanos e mudança do clima, por exemplo.
Há recursos materiais e humanos para alinhar o que quase 40 ministérios e secretarias especiais fazem mundo afora.
Falta apenas o comando que somente pode vir de cima.
Folha de S.Paulo, 23/1/2013
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