28 de janeiro de 2013

Diploma é novo objetivo chinês


Por KEITH BRADSHER
SANYA, China, The New York Times

A mãe de Zhang Xiaoping abandonou a escola depois da sexta série. Seu pai, que tinha nove irmãos, nunca estudou. Mas Zhang, 20, faz parte de uma nova geração de chineses que se beneficia de uma iniciativa nacional para produzir graduados em ensino superior em números que o mundo nunca viu.
Caloura em uma nova universidade no sul da China, Zhang é formada em inglês. Mas sua segunda opção é a cultura pop americana, que ela absorve assistindo na internet a seriados dos EUA.
Tudo faz parte de uma ambição específica: trabalhar para um fabricante de carros chinês. Ela quer dar à companhia as percepções culturais e a fluência em inglês que permitam à fábrica fornecer táxis a Nova York. "É meu sonho e vou me dedicar a ele."
Mesmo que seu sonho seja apenas um devaneio de estudante, a China tem dezenas de milhões de Zhangs -jovens inteligentes cujas aspirações poderão tornar-se uma poderosa concorrência econômica para o Ocidente no futuro.
A China está fazendo um investimento de US$ 250 bilhões por ano no que os economistas chamam de capital humano. Assim como os EUA ajudaram a construir uma classe média de colarinho-branco no final dos anos 1940 e no início dos 1950, financiando a educação para milhões de veteranos da Segunda Guerra Mundial, o governo chinês usa vastos subsídios para educar dezenas de milhões de jovens que se mudam do campo para as cidades.
O objetivo é modificar o sistema atual, em que uma pequena elite altamente educada supervisiona exércitos de trabalhadores industriais semitreinados e de trabalhadores rurais. A China quer subir na curva do desenvolvimento, promovendo um público de educação mais ampla, que se pareça mais com as forças de trabalho multifacetadas dos EUA e da Europa.
Enquanto reforça o futuro da China como potência industrial global, a população cada vez mais instruída representa desafios assustadores para seus líderes. A economia chinesa desacelerou no ano passado, e o país enfrenta um excedente de formandos em nível superior com altas expectativas e oportunidades limitadas.
Muito depende de se o sistema político autoritário chinês conseguirá criar um sistema educacional que incentive a criatividade e a inovação que as economias modernas exigem.
A China também enfrenta dificuldades formidáveis para combater a corrupção generalizada, um sistema político esclerosado, graves danos ambientais, monopólios estatais ineficientes e outros problemas. Se essas questões puderem ser superadas, uma força de trabalho mais educada poderá ajudar o país a se tornar um rival ainda mais formidável para o Ocidente.
O atual plano quinquenal da China, que vai até 2015, concentra-se em sete prioridades. São: energia alternativa, eficiência energética, proteção ambiental, biotecnologia, tecnologias da informação avançadas, manufatura de equipamentos de ponta e os chamados veículos de novas energias, como carros híbridos e elétricos.
A meta de Pequim é investir até três trilhões de renminbi, ou US$ 1,6 trilhão, na expansão desses setores, para que representem 8% da produção econômica até 2015, contra 3% em 2010. Ao mesmo tempo, grandes universidades concentram-se nas tecnologias existentes e nas indústrias em que a China representa um crescente desafio para o Ocidente.
A Universidade Geely, de Pequim, uma instituição privada fundada em 2000 por Li Shufu, presidente da indústria de automóveis Geely, já tem 20 mil estudantes em uma série de disciplinas, com ênfase na engenharia e na ciência.
Li também financiou e construiu a Universidade Sanya, uma instituição de artes liberais com 20 mil estudantes, da qual Zhang é aluna, e abriu uma faculdade comunitária vocacional para 5.000 estudantes em sua cidade natal, Taizhou, para treinar trabalhadores fabris capacitados.
A crescente oferta de profissionais universitários na China é uma reserva de talento que as corporações globais estão ávidas para utilizar.
"Se antes iam à China em busca de mão de obra, hoje procuram cérebros", disse Denis F. Simon, um dos mais conhecidos consultores de administração especializados em empresas chinesas.
Multinacionais como IBM, General Electric, Intel e General Motors contrataram milhares de formandos nas universidades chinesas.
Duplicação de faculdades
Na última década, a China duplicou o número de faculdades e universidades, para 2.409. Ela está a caminho de se equiparar, dentro de sete anos, com o atual índice de jovens de 18 anos formados no ensino médio dos EUA, de 75%.
Ao quadruplicar o número de formandos em faculdades na última década, hoje a China produz oito milhões de formandos por ano em universidades e faculdades comunitárias. Isso já é bem mais que os EUA em número -mas não como porcentagem. Com apenas um quarto da população chinesa, os EUA produzem por ano três milhões de formandos em faculdades e cursos pós-colegiais.
Até o final da década, a China pretende ter quase 195 milhões de formandos em universidades e faculdades comunitárias -em comparação com não mais de 120 milhões nos EUA. Volume não significa qualidade, é claro. Alguns especialistas em China afirmam que o crescimento dos horários de aulas em educação superior superou a oferta de professores e instrutores qualificados.
Giles Chance, antigo consultor em China que hoje é professor visitante na Universidade de Pequim, disse que muitos das dezenas de milhões de recém-formados em faculdades chinesas poderão encontrar empregos em fábricas, mas não terão capacitação para competir em grandes áreas da economia americana -especialmente em serviços como saúde, vendas ou bancos de varejo.
"O formando chinês em uma universidade de segunda linha não é equivalente a um americano em capacidade linguística e familiaridade cultural", disse.
A questão principal para as faculdades chinesas é se elas podem cultivar inovação em ampla escala -competindo com os melhores e mais inteligentes americanos em hardware multimídia e aplicativos de software, ou superando os alemães em design e engenharia para fazer carros robustos e equipamentos industriais automatizados.
Sem garantias
De fato, a experiência do Japão mostra que ter mais formandos não garante a criatividade empresarial. Nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, o Japão montou um esforço educacional semelhante ao que vemos hoje na China. A versão japonesa gerou uma enorme classe média e ajudou a transformar o país em uma das maiores economias do mundo. Mas, em parte devido a uma cultura em que se encaixar muitas vezes é mais valorizado do que se destacar, o Japão atingiu um platô econômico.
Se as universidades chinesas não puderem ajudar a solucionar a charada da inovação, o país também poderá ter dificuldades para avançar quando suas vantagens de mão de obra e capital baratos desaparecerem, o que os economistas preveem para dentro de dez a 15 anos. Ainda assim, com dez vezes a população do Japão, a China tem a capacidade de competir com os americanos e europeus de colarinho-branco em um amplo leque de setores.
Uma das maiores perguntas sobre a qualidade das universidades chinesas envolve quem ensina, o que e como. O salário base de um professor é geralmente inferior a US$ 300 por mês -menos do que ganha um operário em linha de montagem.
Os métodos de ensino na China também tendem a ser antiquados pelos padrões ocidentais e parecem mal adequados para produzir os empresários ou os gerentes socialmente aptos que as multinacionais cobiçam.
"Alguns professores mais jovens gostam de se comunicar com os alunos, mas os mais velhos apenas ficam de pé na frente da classe e falam sozinhos", disse Long Luting, formado em engenharia química em 2010 na Universidade Tianjin.
Os empregadores chineses tendem a procurar estudantes capazes de preencher imediatamente funções específicas. Corporações de propriedade estrangeira na China muitas vezes usam os formandos chineses de maneira diferente, dando mais ênfase ao desenvolvimento profissional a longo prazo.
Prontos para competir
A China já tem a maior indústria automobilística do mundo e, no ano passado, produziu o dobro de carros e caminhões que os EUA ou o Japão. Mas virtualmente nenhum desses carros é exportado para o Ocidente -ainda.
Os fabricantes de carros e os políticos chineses vêm se preparando há anos para seguir o exemplo do Japão e da Coreia do Sul. Mas atingir essa meta vai exigir pelo menos quatro grandes avanços: desenhar carros e motores mais atraentes, melhorar a confiabilidade, desenvolver tecnologias locais que não dependam de patentes de fabricantes estrangeiros e compreender os compradores no exterior.
As autoridades chinesas dizem que um grande motivo pelo qual estão despejando bilhões de dólares no desenvolvimento de carros elétricos e híbridos é que eles esperam desenvolver as tecnologias antes de outros países.
O progresso em tecnologias que economizam energia e são menos poluentes poderá dar uma vantagem às companhias chinesas, por exemplo, quando a Comissão de Táxis e Limusines da Cidade de Nova York decidir em 2021 que modelo as frotas da cidade deverão comprar.
O que os clientes querem
O país também está tentando desenvolver o lado brando dos negócios internacionais: marqueteiros, especialistas em publicidade e outros que possam intuir o que os clientes no exterior desejam.
Li, o presidente da Geely, nasceu em uma família de agricultores. Mas tornou-se um dos mais ricos magnatas de seu país construindo carros baratos. Sua companhia, o Grupo Geely, comprou a Volvo sueca da Ford em 2010 e agora quer atacar o Ocidente.
A Geely iniciou elaboradas pesquisas de mercado no Reino Unido para determinar quais de seus modelos serão bem aceitos por lá. Essa é a vanguarda do que provavelmente será um ataque total dos fabricantes de carros chineses aos mercados ocidentais em 2015.
Li também está avançado em outro objetivo: treinar seus próprios gerentes. Suas empresas contratam os melhores formandos dos três campi que ele fundou.
A Universidade Sanya está desafiando o ensino internacional de administração. Seus estudantes, como Zhang, tentam aprender o máximo possível sobre os mercados estrangeiros.
Ela está se formando em inglês, mas seus cursos favoritos foram em marketing. Trabalha no tempo livre como guia para conferências internacionais para ter maior exposição a falantes nativos de inglês. Zhang lê muito sobre tendências automotivas e tem confiança em sua capacidade de convencer a cidade de Nova York a comprar carros Geely para seus táxis em 2021. "A posição da China está crescendo constantemente. Temos um papel importante nos mercados internacionais", disse em inglês fluente. "Precisamos ter a capacidade de nos comunicar com os estrangeiros."

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