24 de janeiro de 2013 | 20h 15
DANIEL BASES - Reuters, Estado de S.Paulo
O crime, como se sabe, não compensa. Mas ele certamente custa caro.
Uma série de estudos encomendados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) quantifica os custos da criminalidade e da violência na América Latina e Caribe, chegando a novas conclusões a partir de estatísticas sobre segurança pública, saúde e economia.
No Brasil, um estudo mostrou que as pessoas pagam 13 bilhões de dólares só para terem a sensação de segurança. No Uruguai, o impacto negativo do problema chega a 3 por cento do Produto Interno Bruto. Em geral, bebês nascidos de mães que sofrem violência física são mais propensos a ter problemas de saúde.
"As pessoas pagam pela sensação de segurança", disse David Vetter, coordenador do estudo que avaliou o impacto da insegurança sobre o valor dos imóveis em áreas metropolitanas brasileiras. "Há muito mais pessoas que tem medo dos crimes do que são vítimas dos crimes", disse por telefone à Reuters.
Um tema que permeia os oito estudos apresentados é que as mulheres, crianças e famílias em geral sofrem mais com a criminalidade e a violência.
O BID observa que a região apresenta algumas das maiores taxas mundiais de homicídios e que nela ficam 20 das cidades mais violentas do planeta.
No entanto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a região da América Latina e Caribe crescerá 3,6 por cento neste ano, mais do que o dobro do 1,4 por cento previsto para as economias avançadas, e acima da média mundial de 3,5 por cento. Esse tipo de crescimento mascara parcialmente o impacto da criminalidade e da violência sobre as economias da região.
MORADIA
No estudo de Vetter, o custo habitacional no Brasil é inflado em 13,6 bilhões de dólares, levando em conta "a forte e significativa relação entre o aluguel mensal e a sensação de segurança no lar."
Elevar a sensação de segurança doméstica de 40,9 por cento para 59 por cento (ou um desvio padrão) aumentaria o valor dos imóveis em 757 dólares, se o valor fosse dividido por todas as 18 milhões de residências da área estudada.
"As implicações da criminalidade sobre o bem estar da região são potencialmente muito maiores. A violência não vitimiza só indivíduos, ela abala a confiança nas instituições públicas", disse em nota Ana Corbacho, economista da divisão de Instituições para o Desenvolvimento do BID.
O BID solicitou estudos acadêmicos para mensurar o custo da criminalidade e recebeu 117 propostas de 19 países. Os autores de oito dos nove estudos financiados estão apresentando seus resultados em um seminário nesta quinta e sexta-feira na sede do BID, em Washington.
"Os cidadãos da América Latina e Caribe citam a criminalidade e a violência como sua maior preocupação, acima do desemprego, da saúde e de outras questões", disse o BID em nota.
Grande parte da violência na região pode ser atribuída ao narcotráfico.
No México, a atual "guerra às drogas" levou a um declínio da atividade econômica em municípios onde a violência relacionada ao narcotráfico é mais acentuada, segundo outro estudo.
No mês passado, o procurador-geral mexicano, Jesús Murillo, estimou que 70 mil pessoas tenham morrido por causa da violência associada às drogas durante o governo de Felipe Calderón (2006-12), sendo que cerca de 9.000 cadáveres não foram identificados.
Um tema comum a todos os estudos focados na saúde e questões sociais é o impacto significativo da violência e da criminalidade sobre mulheres e crianças, e os efeitos geracionais de longo prazo sobre a saúde, a educação e os gastos com medicamentos.
Um estudo no Brasil mostrou que grávidas com pouca escolaridade e vivendo em áreas de grande criminalidade têm mais chances de parir crianças abaixo do peso ideal.
"Isso sugere que a violência contribui com mecanismos que afetam a transmissão do status socioeconômico entre os pais e sua prole", escreveram pesquisadores da Universidade de Leicester e da Universidade Queen Mary, de Londres.
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