24 de janeiro de 2013

Movimentos sociais repudiam ordem da PM para abordar ‘pardos e negros’ em Campinas



  • Em nota, comando da PM diz que apura os fatos administramente
LEONARDO GUANDELINE (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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Ordem dada por comandante de batalhão em Campinas gera polêmica
Foto: Reprodução / G1
Ordem dada por comandante de batalhão em Campinas gera polêmica Reprodução / G1
SÃO PAULO – Uma ordem dada a policiais militares que patrulham as ruas do bairro Taquaral, em Campinas (SP), para abordar “especialmente indivíduos de cor parda e negra” gerou polêmica e manifestações de repúdio por parte de movimentos sociais e de direitos humanos. A ordem, do dia 21 de dezembro, e válida até a última segunda-feira, é assinada pelo capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci, comandante do batalhão responsável pela região. Movimentos sociais acusam o oficial de racismo e dizem que é prática comum da Polícia Militar (PM) na cidade abordar “sem motivo algum” jovens negros e pobres. Em nota, o comando da PM “lamenta todo o reflexo gerado” e diz que “os fatos estão sendo apurados administrativamente”. Nesta quinta-feira, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) negou racismo e disse que a ordem se refere a um caso pontual, onde suspeitos de assalto que atuariam nas ruas da região tinham essa “característica”.
Reginaldo Bispo, do Movimento Negro Unificado (MNU), enviou nesta quarta-feira um ofício ao Ministério Público Federal (MPF), já que a atitude, classificada por ele de “racista e fascista”, fere a Constituição. Um dos incisos do Artigo 5º diz que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”.
- Já fizemos uma representação ao MPF. Exigimos uma retratação do governo do estado e punição ao oficial responsável pela ordem – diz.
Bispo ressalta que é comum por parte da PM abordagens “mais ríspidas” contra jovens negros e pobres nos bairros mais nobres do município. E cita casos tanto no Taquaral quanto no distrito de Barão Geraldo.
- Em Barão Geraldo há muitos bares frequentados, principalmente, por jovens de classe média e alta. Já no Taquaral tem um parque onde um pessoal de mesmo nível social faz caminhada e corre. O comportamento do comando da PM é típico de um estado que entende que as áreas nobres não podem ser frequentadas por pobres e negros, nem mesmo os espaços públicos. Trata-se de uma questão ideológica. Nesses locais, a PM bota terror e intimida – desabafa Reginaldo Bispo, acrescentando que o estado deveria ter mais programas culturais, de lazer, trabalho e esporte para a população carente.
Uma reunião com a participação de entidades de direitos humanos e movimentos e coletivos sociais está marcada para esta sexta-feira, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas. No encontro devem ser discutidas novas medidas a serem tomadas em relação aos casos de violência policial em Campinas.
- O quadro daqui é semelhante ao da capital (São Paulo), principalmente nas periferias – finalizou Bispo.
A Polícia Militar, em nota, disse que “lamenta todo o reflexo gerado pela redação infeliz de um documento administrativo elaborado pelo comandante da 2º Companhia do 8º Batalhão de Polícia Militar do Interior, que proporcionou interpretações de natureza racista” e que “equivocou-se ao replicar na ordem se serviço o mesmo teor da solicitação de abordagem de pessoas em atitudes suspeitas, feita por moradores de bairros próximos ao aeroporto de Viracopos, na cidade de Campinas”.
Ainda no texto, a PM ressalta que “um dos principais valores da instituição é a defesa integral dos direitos fundamentais do homem, sem qualquer discriminação de raça, cor, opção religiosa ou orientação sexual”.

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