3 de setembro de 2013

A evasão no magistério público


03 de setembro de 2013 | 2h 05

O Estado de S.Paulo
A conjugação de baixos salários com condições precárias de trabalho e falta de perspectiva de ascensão na carreira está levando parcela expressiva do professorado paulista a abandonar o magistério público estadual. A cada dia, 8 docentes concursados desistem de lecionar nas escolas estaduais paulistas por falta de motivação. Entre 2008 e 2012, a média de exonerações foi de 3 mil por ano.
É um número muito alto, apesar de as autoridades educacionais afirmarem que ele representa apenas 1,63% do quadro de docentes efetivos do magistério paulista. A rede pública de ensino fundamental e médio do Estado de São Paulo tem 232 mil professores, dos quais 120,8 mil são concursados, 63 mil são contratados com estabilidade e 49 mil são temporários.
Uma parte dos docentes que desistiram do magistério público no Estado de São Paulo, abrindo mão da estabilidade no serviço público, migrou para colégios particulares, cuja maioria assegura boas condições de trabalho, ou para as redes municipais de ensino que pagam salários mais altos. A outra parte simplesmente deu adeus às salas de aula, buscando emprego em outras áreas da administração pública ou no setor financeiro, em empresas e até em academias de ginástica.
"A questão-chave da educação é o professor. Mas é preciso ter atratividade de carreira, boa formação, retenção e avaliação", diz Romualdo Luiz Portella de Oliveira, titular do Departamento de Administração Escolar da Faculdade de Educação da USP. "Sem carreira atrativa, acaba sendo contratado quem tem dificuldade de ingressar em outra carreira. E a rede pública precisa dos melhores profissionais", lembra a diretora da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz. "Falta vontade política de melhorar a escola pública. O Estado mais rico do País deveria pagar um salário digno", afirma o presidente do Centro do Professorado Paulista (CPP), José Maria Cancelliero.
Na rede estadual de ensino básico, o piso é de R$ 2.255 - valor maior do que o piso nacional, que é de R$ 1.567, mas menor do que o piso da rede da Prefeitura Municipal, onde o professor iniciante recebe cerca de R$ 2,6 mil. Por causa dos baixos salários, o governo paulista se encontra numa situação paradoxal. Desde 2011, foram realizados concursos públicos para preencher 34 mil vagas de professores dos colégios estaduais. Contudo, só aumentou em 1,5 mil o número de docentes efetivamente concursados. Na prática, isso significa que o problema dos professores temporários ainda está longe de ser resolvido.
Em novembro, o Estado realizará mais um concurso, para 59 mil vagas. A expectativa das autoridades educacionais é contratar pelo menos 20 mil docentes no próximo ano. Para os especialistas em educação pública, porém, há falhas de planejamento. "Não fizeram os concursos a tempo de suprir as reposições. Além das exonerações, tem as aposentadorias previstas. Organizar esse processo não é sofisticação. É o mínimo que se deveria fazer", afirma Ocimar Alavarse, ex-coordenador pedagógico da rede municipal de ensino público e professor da Faculdade de Educação da USP. Ele também questiona a qualidade dos docentes que serão selecionados no próximo concurso, por causa da dificuldade de se recrutar tantos profissionais de uma só vez. "Não se regulariza essa situação de uma só vez. Levará de cinco a dez anos para resolver", estima.
A falta de interesse pelo magistério público não é um problema que ocorre apenas no Estado de São Paulo. Atualmente, há um déficit de 170 mil docentes de Matemática, Física e Química. Mas os dados do Ministério da Educação revelam que esse problema tão cedo não será resolvido, pois o número de interessados em lecionar no ensino básico está caindo a cada ano. Entre 2006 e 2011, por exemplo, o número de alunos dos cursos de licenciatura e pedagogia caiu 7,5%. Esse é o preço que o País - cujo desenvolvimento depende da melhoria da qualidade da educação básica - paga pela falta de valorização do magistério público.

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