No começo, até que o governo tinha razão. Ninguém contesta que faltem profissionais em várias cidades do país e há razoáveis indícios de que seria necessário formar mais médicos. Basta lembrar que o desemprego, fenômeno que em algum grau afeta todas as carreiras, é praticamente desconhecido da categoria.
Os médicos, por meio de suas entidades de classe, diziam que o problema é muito mais de má distribuição do que de carência de profissionais e insistiam na necessidade de melhorar as condições de trabalho. Há aí um pouco de natural corporativismo (quanto menor a concorrência, melhor para quem já está no mercado) e algumas verdades. A estrutura da saúde é ruim, especialmente longe dos grandes centros, e não é possível fazer boa medicina sem um mínimo de equipamentos e pessoal de apoio.
Esse teria sido o momento de negociar. O governo poderia ter acenado com um plano de carreira, como os médicos reivindicam há tempos, em troca do apoio dos conselhos para levar profissionais, eventualmente até cubanos, às áreas mais remotas.
O Planalto, entretanto, talvez de olho numa popularidade rápida, preferiu confrontar os médicos. Trouxe os cubanos meio de supetão, adicionando temperos ideológicos ao que deveria ser uma questão técnica. Os médicos, por sua vez, reagiram com tal arrebatamento que tornaram verossímil a ladainha oficial de que a classe estava boicotando a saúde dos pobres. A julgar pelas pesquisas, o governo está agora rindo sozinho.
É pena. Para quem considera que a saúde deveria ser uma questão de Estado, e não de eleição, perdeu-se mais uma oportunidade de tentar aperfeiçoar o sistema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário