4 de setembro de 2013

Sebastião Salgado busca harmonia entre homem e meio em exposição


Viagem de oito anos de fotógrafo a áreas remotas é tema de mostra
DAIGO OLIVAEDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA", 4/9/2013
Um livro com 250 mil exemplares vendidos, um documentário sendo coproduzido por Win Wenders e uma série de exposições que já passou quatro grandes cidades. "Genesis", último trabalho de Sebastião Salgado, chega a São Paulo amanhã.
As 245 fotografias em preto e branco que o fotógrafo exibirá no Sesc Belenzinho são o resultado do trabalho de oito anos em que documentou tribos, animais e paisagens em regiões remotas do planeta, como Zâmbia, Sibéria e a ilha de Galápagos, buscando registrar sociedades que ainda se mantêm imunes às mudanças aceleradas da vida contemporânea.
"Queria me ver no início, como éramos, como funcionávamos", diz Salgado. "Essas sociedades são fortes representantes do que fomos há 5.000, 10 mil anos atrás, e é importantíssimo tê-las como uma referência para a nossa história. Há uma forte imagem de como existe a relação deles em equilíbrio com a natureza", afirma.
Salgado nega ser um fotógrafo ativista, mas não só a ideia em torno do projeto, como as atividades que promove por meio do Instituto Terra --do qual é um dos fundadores e atualmente visa a recuperação das fontes do Rio Doce-- têm grande preocupação com o ambiente.
Ainda assim, o Museu Britânico de História Natural de Londres foi criticado por ambientalistas ao receber a mostra do fotógrafo.
"Genesis" teve parte de seu financiamento feito pela mineradora brasileira Vale. Ecologistas alegam que a participação da companhia nas obras da usina de Belo Monte inundará parte da floresta amazônica e desalojará tribos indígenas como as que aparecem nas fotos de Salgado.
"Eu não tenho nada contra a Vale. No Brasil, é uma das empresas mais razoáveis do ponto de vista ambiental", diz. "Toda mineradora destrói um bocado de terra. E todo mundo tem um carro, um computador e um garfo. Que sociedade é essa que nós vamos negar o consumo básico, onde nós somos os maiores consumidores?", afirma.
Aos 69 anos, a voz firme e a disposição com que Salgado encara seus projetos de longa duração o aproximam da ideia de estado inicial de "Genesis". "Em 2008, com 64 anos, fiz 850 km a pé no norte da Etiópia. Não é um problema de idade, é de cabeça. A hora em que você sabe que não tem mais projetos, aí pode morrer. Pronto, acabou".

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