14 de setembro de 2014

Amazonas registra o maior crescimento de suicídio de jovens do País

domingo 14 de setembro de 2014 - 1:30 PM
Márcia Valéria / portal@d24am.com
Maioria dos casos de suicídio de crianças, jovens e adultos  está ligada à depressão.Foto: Jair Araújo
Manaus - Segundo dados do Mapa da Violência do Ministério da Saúde (MS), o Amazonas tem a maior taxa de crescimento de suicídio juvenil do País: 134,9% entre os anos de 2002 e 2012. O mais preocupante, de acordo com o MS, é que estima-se 300 tentativas para cada caso registrado, além da sub-notificação. O levantamento, divulgado em julho, voltou ao debate na última quarta-feira, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.
A dona de casa Maria* entrou em desespero quando a filha Katia*, de 20 anos, disse que tinha chegado a medir a altura entre o telhado da varanda e o chão para ver se conseguia pendurar uma corda e pular. “Ela não falou diretamente a palavra suicídio, mas como já vinha apresentando sinais de depressão, decidi procurar ajuda antes que minha filha tirasse a própria vida. Hoje, fora do quadro depressivo, ela me contou que só não se matou naquela época porque pensou em mim”, contou. 
 
Já a cabeleireira Eliane* chegou a tempo de segurar as pernas do filho André*, de 18 anos, que estava em cima de um banco e preso a uma corda amarrada na sacada da janela do quarto. “Deus me deu forças e eu o segurei a tempo e impedi que ele pulasse. Como sequela, ele ficou com uma cicatriz no pescoço”, disse.
Outras mães não tiveram a mesma sorte que Maria e Eliane e seus filhos. No período de dez anos, aponta o Mapa da Violência, 100,6 a cada 100 mil crianças, adolescentes e jovens com menos de 25 anos cometeram suicídio no Estado. Foram 781 mortes, destas 402 em Manaus, 65,5 para cada 100 mil habitantes juvenil da capital.
A psicóloga Auxiliadora Ribeiro, da clínica Pais e Filhos, afirma que vários motivos levam um jovem escolher por fim a sua vida e, na maioria dos casos, estão ligados à depressão. Ela alerta que os familiares devem estar atentos aos sinais. 
“A qualidade de vida que tem, o tipo de família que ele pertence, o papel que ele desempenha perante os familiares, as frustrações, as perdas, as decepções, o uso excessivo de álcool e drogas e o nível de tolerância que ele encara sua vida pode levá-lo ao suicídio”. disse.
Para ela, a  grande demanda dos dias atuais requer investimento e participação dos jovens nas mais diversas esferas e contextos familiares. “Sendo assim o jovem se vê pressionado a responder cada vez mais. Alguns percebem-se incapazes e veem no suicídio uma solução”.  
Ela orienta que a atenção dos pais, a acolhida nos momentos difíceis e o limite são ingredientes que permitem que, em situações que geram ameaça ao jovem, ele possa apresentar defesas adequadas e assim bloquear  as situações que geram angustia e ansiedade. 
Ranking
O Mapa da Violência também aponta dois municípios amazonenses, de até 20 mil habitantes, entre as três maiores taxas de suicídio de jovens do País.  Em primeiro lugar no ranking,  está São Gabriel da Cachoeira (51,2) e, em terceiro, São Paulo Olivença (36,7). Em segundo, aparece Três Passos, no Rio Grande do Sul (41,9).
Tefé, com taxa de 16,7, também aparece no Mapa da Violência na 29ª posição e Tabatinga, com 14,7, na 90ª posição, entre as 100 cidades de até 20 mil habitantes com as maiores taxas de suicídio juvenil.
De acordo com o Mapa da violência, entre o número de casos  de suicídio na população geral, o crescimento foi de 131,3% entre 2002 e 2012, no Estado. Em Manaus, no mesmo período, o crescimento foi de 89,6%. Foram  1.407 mortes em dez anos, que representa a taxa de 90,7 para cada 100 mil habitantes. Em Manaus, foram 784 mortes, 51,6 para cada 100 mil.
O MS alerta que  os suicídios vêm aumentando de forma progressiva e constante, no Amazonas. Foram 80 em 2002, 147 em 2008 e 185 em 2012. Entre os jovens foram 43, 93 e 101, no mesmo período.
*Os nomes são fictícios para manter a privacidade das famílias.

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