15 de setembro de 2014

Melhores universidades do mundo têm muito dinheiro e muitos estrangeiros


HERTON ESCOBAR
Segunda-Feira 15/09/14

Prévia de novo ranking internacional mostra o que as 200 melhores universidades do planeta têm em comum, na classificação do Times Higher Education

Campanário da Universidade da Califórnia Berkeley. Foto: Herton Escobar/Estadão
O que é que Harvard, MIT, Caltech, Oxford, Stanford e outras das melhores universidades do mundo têm em comum? Um grande orçamento, muito investimento em pesquisa, poucos alunos por professor, muitos estrangeiros (tanto entre alunos quanto professores) e muita cooperação internacional são alguns dos ingredientes básicos da fórmula de sucesso dessas instituições, segundo a revistaTimes Higher Education (THE), de Londres.
Prestes a anunciar o seu novo ranking internacional das 200 melhores universidades do mundo — que costuma gerar muita publicidade e discussão toda vez que é publicado –, a THE divulgou hoje uma “perfil” das instituições que farão parte da lista.
Segundo a publicação londrina, as 200 melhores universidades do mundo têm, em média, as seguintes características:
  • - Orçamento anual de US$ 751 mil por docente
  • - US$ 230 mil em recursos de pesquisa por docente
  • - Cerca de 12 alunos para cada 1 professor
  • - 20% dos professores são estrangeiros
  • - 19% dos alunos são estrangeiros
  • - 43% dos trabalhos científicos publicados têm pelo menos um co-autor estrangeiro
Deixando a questão mais pragmática do dinheiro de lado, notem que três das seis características listadas são relacionadas à “internacionalidade” das instituições. Ou seja: a USP pode superar a crise financeira que vive atualmente, e o Brasil pode continuar a formar mais de 10 mil doutores por ano ad eternum, mas a ciência brasileira nunca fará parte da elite internacional enquanto não se conectar efetivamente com aqueles que já fazem parte dessa elite em outros países. Para avançar na fronteira do conhecimento global é preciso passar por cima de fronteiras geográficas e linguísticas nacionais.
O baixo nível de interação com outros países é reconhecidamente um dos pontos mais fracos da ciência brasileira. Por mais inteligentes e qualificados que sejam os pesquisadores “made in Brazil”, a ciência hoje é um empreendimento globalizado. Não há como fazer pesquisa de ponta, na fronteira do conhecimento, sem juntar forças com pesquisadores igualmente competentes de outras nacionalidades — seja via internet, seja trazendo gente de fora para dentro ou mandando gente de dentro para fora.
O Brasil ainda faz muito pouco disso, apesar dos esforços (muitos diriam mal direcionados, porém bem intencionados) do programa Ciência sem Fronteiras. Nossa ciência é ainda muito doméstica, de baixo impacto e voltada para o próprio umbigo. Falta ousadia; falta conectividade. E essa é uma das principais razões pelas quais o Brasil não tem nenhuma universidade classificada entre as 200 melhores do mundo no atual ranking do THE, que se tornou uma referência de excelência científica e acadêmica internacional nos últimos anos, apesar das críticas com relação a alguns dos critérios usados na avaliação.
Na última lista, publicada em 2013, tanto a USP quanto a Unicamp caíram no ranking. E é provável que ambas continuem fora das “top 200” nesta próxima lista, prevista para ser publicada em 1 de outubro.
Exemplo americano
Os Estados Unidos não são a maior potência científica e tecnológica do mundo só porque os cientistas americanos, “made in the USA”, são muito bons. São uma potência porque sua ciência já é sem fronteiras há muito tempo, e suas universidades e empresas estão abarrotadas de alunos e jovens pesquisadores estrangeiros — principalmente na pós-graduação, que é a raiz da produção científica de qualquer país.
A Universidade da Califórnia Berkeley, onde estou agora (oitava colocada no atual ranking do THE), tem mais 1,4 mil alunos de pós-doutorado (o maior número de pós-docs do mundo), e mais de 60% deles vêm de fora dos Estados Unidos, além de outros 2 mil estrangeiros, aproximadamente, que passam anualmente pelos quadros da instituição como alunos ou pesquisadores visitantes. A diversidade étnica e cultural que se vê no câmpus é impressionante. No total, incluindo graduação e pós-graduação, 15% dos alunos são estrangeiros, de mais de 120 nacionalidades (principalmente da China, Coreia do Sul e Índia) — para mais detalhes, clique aqui: http://migre.me/lDgrf
As universidades de ponta americanas estão sempre correndo atrás dos melhores alunos e dos melhores pesquisadores, estejam onde estiverem, não importa a nacionalidade. O que importa, do ponto de vista de uma política nacional e institucional, é que eles vão produzir ciência e formar recursos humanos nos EUA, dentro daquela universidade. O prestígio e os benefícios científicos, tecnológicos e econômicos ficam, mesmo que os autores voltem para o seu país de origem no final. Se eles optarem por ficar nos EUA, melhor ainda.
É um modelo quase impossível de ser adotado na graduação das universidades públicas brasileiras — cujo acesso é baseado em provas coletivas, não em processos de seleção individual, como nas universidades americanas — mas que poderia ser emulado na pós-graduação, criando-se melhores condições para que jovens talentos estrangeiros possam vir estudar e fazer pesquisa no Brasil.
Passamos muito tempo reclamando da fuga da cérebros brasileiros para outros países. Está na hora de começar a investir não só em trazer esses cérebros de volta para casa, mas também atrair algumas boas cabeças de fora para se desenvolver aqui — oferecendo algo mais do que caipirinha, carnaval e belas praias como cartão de visitas.

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