14 de setembro de 2014

HÉLIO SCHWARTSMAN Prisioneiros do tempo


SÃO PAULO - "Não sou e nunca fui favorável a promover a igualdade social e política das raças branca e negra... há uma diferença física entre as raças que, creio, sempre as impedirá de viver juntas como iguais... E eu, como qualquer outro, sou a favor de que os brancos mantenham a posição de superioridade."
Vamos processar o autor da frase por injúria ou racismo? Difícil. Ele já morreu. Além disso, tem certo crédito na praça. Abraham Lincoln, afinal, levou os EUA à guerra civil para pôr fim à escravidão. Mas mesmo ele era prisioneiro de sua época.
Gostamos de descrever nossos valores em termos de uma moral absoluta, mas a realidade é mais complexa. Ainda que certas intuições morais sejam universais, é grande o espaço que a cultura tem para moldá-las. A escravidão foi aceita sem questionamento ético durante a maior parte da história. Nem Aristóteles nem Cristo viram problemas nela.
Como e por que o "Zeitgeist" (espírito do tempo) de uma sociedade se modifica permanece um mistério. Mas, felizmente, ele muda. Apenas 50 anos atrás, um país desenvolvido como os EUA ainda mantinha leis segregacionistas. Hoje, qualquer americano educado, que não assoe o nariz na manga da camisa, vê com genuíno horror atos e palavras discriminatórios. No plano do "Zeitgeist" a luta contra o racismo foi vencida. Isso não significa, é claro, que o triunfo tenha chegado às estatísticas sociais.
O ponto que defendo aqui, na esteira de Friedrich von Savigny, é que esse tipo de revolução cultural independe da vontade do legislador. Quando este se digna a aprovar um diploma, é porque a sociedade já chegara muito antes a esse parecer.
Obviamente, sempre sobram grupos marginais que resistem à mudança. Mas, enquanto se limitam a dizer bobagens sem pô-las em prática, não vale a pena gastar recursos públicos com eles. Respostas mais adequadas à falta de sintonia com o "Zeitgeist" são o gelo social e uma boa caçoada.

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