18 de maio de 2015

Apoiar a escola, Antonio Gois

18 de maio de 2015
"Ciep com ótimos resultados no Rio sabe se beneficiar da ajuda de voluntários e empresas; nem todos os colégios têm a mesma sorte", afirma Antonio Gois

Fonte: O Globo (RJ)



Com 19 anos como repórter de educação, perdi a conta do número de escolas que já visitei no Brasil e no mundo. Moro há dez anos no mesmo bairro, mas nunca havia entrado no colégio que fica praticamente na esquina de minha casa. No início do mês, tentei reparar esse erro ao visitar o Ciep Presidente Agostinho Neto, no Humaitá. Já tinha lido sobre a escola quando ela apareceu no estudo “Excelência com equidade”, da Fundação Lemann, que listou 215 colégios do país que garantiam a seus alunos altos níveis de aprendizado, mesmo atendendo crianças de menor nível socioeconômico.
Esses bons resultados podem ser constatados a partir dos resultados da Prova Brasil, exame nacional do MEC. No Agostinho Neto, 68% dos alunos em português e 74% em matemática apresentavam aprendizado adequado para o 5º ano do ensino fundamental. As médias nacionais nesses indicadores são, respectivamente, de 38% e 32%. Há muitas escolas, mesmo na rede pública, que conseguem bons resultados por selecionarem um perfil de aluno de famílias de maior renda e escolaridade. Não é o caso ali, pois cerca de 80% das crianças atendidas moram na Rocinha.
Um desempenho desses, às vezes, é obtido à custa de uma preparação ostensiva para testes, sacrificando disciplinas que não são avaliadas pelo MEC. Ao menos ali, não parecia ser o caso. Enquanto algumas turmas estavam em salas de aula, outras frequentavam as oficinas de arte, aulas de educação física ou realizavam atividades na horta.
O que explica então o bom resultado do Agostinho Neto? A diretora Márcia Rodrigues destaca primeiro a qualidade dos professores, como não poderia deixar de ser. Há ainda outro elemento comum em boas escolas: uma coordenação pedagógica atuante, que promove a troca constante de experiência entre os docentes, em busca de melhores práticas pedagógicas.
O colégio, porém, tem também um diferencial do qual poucas escolas no Brasil podem se beneficiar: está localizado num bairro de alta renda da cidade, e recebe com frequência visitas de pessoas e empresas dispostas a ajudar. Nas contas de Márcia, são pelo menos dez entidades e organizações que prestam serviços voluntários. Vão desde o acompanhamento socioemocional dos alunos à manutenção da horta. Essa rede de apoio à escola oferece a ela inúmeras oportunidades. Recentemente, um voluntário soube que um brasileiro, bolsista na Universidade da Califórnia, queria dar aulas de ciências para alunos da rede pública, via Skype. Indicou o Ciep, que prontamente viabilizou o projeto. A escola é também proativa. Se é identificado algum problema que não é resolvido facilmente pelas vias tradicionais, a diretora procura apoio de empresas do bairro, e com frequência recebe a indicação de alguém disposto a ajudar.
Nem tudo, é claro, se resume ao apoio externo. Bárbara Sales, coordenadora pedagógica com 25 anos no magistério, diz que já não faltam mais, como no passado, materiais básicos fornecidos pela prefeitura. Os professores também estão, segundo ela, cada vez mais qualificados. Mas há também carências. A equipe do Agostinho Neto reclama da falta de profissionais de apoio, e tem que recorrer com frequência aos “maridos”, como diz Márcia, quando precisa realizar consertos urgentes.
A experiência do Agostinho Neto reforça que há muito o que uma comunidade pode fazer para apoiar a escola. O problema é que são raros os colégios públicos que têm a sorte de se localizarem no meio de uma vizinhança de alta renda e escolaridade, e disposta a ajudar. Na imensa maioria dos casos, é mesmo o poder público, com recursos e apoio constante, que tem a tarefa, insubstituível, de garantir a todas as crianças uma educação de qualidade. Infelizmente, estamos longe disso.

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