25 de maio de 2015

Para que estudar?, Antonio Gois


Mais crianças no Brasil e no mundo têm acesso à escola, mas a maioria não aprende o básico. Isso não significa que o esforço foi em vão

Mais de 100 ministros do mundo se reuniram na semana passada no Fórum Mundial de Educação, na Coreia do Sul, para acordar metas a serem atingidas por todos os países para os próximos 15 anos. O encontro, organizado pela Unesco, serviu também para analisar o cumprimento dos objetivos traçados 15 anos antes, na conferência de Dacar. Nesse período, o percentual de crianças com idade para frequentar o ensino fundamental, mas que estava fora da escola, caiu de 16% para 7%. Foi um avanço considerável, mas insuficiente para cumprir a meta de acesso universal. O total de crianças sem estudar chega hoje a 58 milhões no mundo.
A tarefa é garantir que toda criança esteja na escola segue, portanto, inconclusa. Mas as autoridades presentes na Coreia concordaram que, a essa agenda, era preciso agregar outra: não basta universalizar o acesso, é preciso também garantir o direito de aprendizagem. Tal desafio, como bem sabemos pelo caso brasileiro, é ainda mais complexo.
Uma semana antes do Fórum, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou um relatório com indicadores de aprendizagem em 76 países onde foi possível comparar o desempenho de alunos. O fato de só 76 nações — que representam apenas um terço da população do planeta — constarem do levantamento já sinaliza que será preciso um esforço monumental para ampliar o número de países com algum diagnóstico de qualidade do ensino. Há no mundo mais de 190 países, e a maioria daqueles onde não há indicadores de desempenho é formada justamente pelos mais pobres, onde os problemas são certamente mais graves.
O documento da OCDE revela que em 25 nações mais da metade dos jovens têm níveis de aprendizagem abaixo do que a organização considera o básico. O Brasil faz parte deste grupo, com 64% dos estudantes abaixo do nível mínimo. Nossas próprias avaliações indicam um quadro ainda mais grave ao final do ensino médio. Em 2013, 91% dos alunos terminavam este nível de ensino sem aprendizado adequado em matemática, percentual não muito diferente dos 88% registrados em 1995.
Esses dados podem dar a falsa impressão de que todo o esforço para colocar mais crianças na escola foi inútil. Primeiro, é preciso considerar que os testes de aprendizagem avaliam apenas uma dimensão — ainda que fundamental — do trabalho da escola, que é o ensino das disciplinas tradicionais.
Mesmo no caso do Brasil, onde sabemos que nossos indicadores de qualidade estão estagnados ao menos desde 1995, o maior acesso ao estudo está relacionado a inúmeras variáveis positivas.
A Pnad, pesquisa anual do IBGE, mostra que brasileiros com apenas o ensino médio completo entre 25 e 34 anos de idade (e que portanto frequentaram os bancos escolares já nesse período de péssimos indicadores de qualidade) recebem salários, em média, 40% maiores aos de quem parou no ensino fundamental.
Maior escolaridade está correlacionada também no Brasil a menores taxas de gravidez precoce ou indesejada, e de mortalidade infantil. Ter estudado mais, mesmo nesse sistema de baixa qualidade, significa também melhores condições de saúde, acesso a água e esgoto tratado, e maior expectativa de vida. Uma boa educação pode ainda impactar positivamente em valores que não são mensuráveis, como ética, cooperação ou criatividade, mas que ninguém discorda que são fundamentais para o sucesso de uma sociedade.
O esforço de colocar mais crianças na escola, portanto, não foi em vão. Isso só não serve de desculpa ou consolo para os péssimos resultados de aprendizagem. Há muito o que avançar.

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