3 de maio de 2015

Referência mundial em educação, Finlândia faz reforma no ensino


Alunos do ciclo fundamental terão de estudar tópicos que envolvam diferentes disciplinas

A partir de temas como mudança climática, alunos aprenderão de física a geologia, diz secretária de educação
PATRICIA PEREIRACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM HELSINQUE (FINLÂNDIA), 3/5/2015

Tradicional referência internacional em educação, a Finlândia está promovendo uma reforma no ensino. Todas as escolas de nível fundamental do país terão que incluir em sua grade curricular ao menos dois projetos multidisciplinares, que juntem conteúdos de diferentes áreas de conhecimento.
A medida valerá a partir do outono de 2016, quando começa o ano letivo no país.
A ideia é que os alunos estejam mais preparados para o futuro e para o mercado de trabalho, diz a chefe do desenvolvimento curricular do Ministério da Educação da Finlândia, Irmeli Halinen.
"Como tudo está mudando muito rápido na sociedade e no meio científico, concluímos que as crianças precisam adquirir competências mais abrangentes", afirma.
O objetivo de unir disciplinas diversas em um mesmo projeto é também envolver mais os alunos nas atividades escolares.
"O sistema antigo foi desenhado para as necessidades da era industrial. Queremos renovar, enfatizar a curiosidade e o prazer no que se aprende", diz Marjo Kyllönen, secretária de Educação da capital Helsinque.
Na prática, alunos e professores do que seria o ensino fundamental no Brasil vão definir, juntos, um tema que envolva diferentes disciplinas, e que será desenvolvido ao longo do ano.
Em Helsinque, o programa está mais avançado e vai incluir também o ensino médio e profissionalizante, de acordo com a secretária.
"Um tópico poderia ser 'mudança climática', e esse tema seria integrado a estatística, literatura, geologia e física", exemplifica.
A proposta vinha sendo discutida há algum tempo. Há escolas, inclusive, que já praticam a multidisciplinaridade. A novidade é que, agora, o governo transformou a opção em obrigatoriedade.
Minna Welin, diretora da escola Saunalahti, em Espoo, na região de Helsinque, diz que crianças e educadores já começaram a discutir possíveis tópicos para 2016. Eles também devem fazer, ainda este ano, um miniprojeto experimental.
CONFUSÃO
Em março, circulou na internet uma informação, depois desmentida, de que a Finlândia iria abolir completamente a divisão do ensino em disciplinas.
A secretária de Helsinque diz que, de fato, o ensino por temas vai ganhar mais espaço, mas aulas de matemática, história e ciências permanecem no currículo.
Uma mudança mais radical só seria possível na Finlândia com mudança na lei. Desde 2012, um decreto estipula que todas as escolas precisam dedicar parte da carga horária ao ensino de disciplinas.

    Piora em exame internacional preocupa governo

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM HELSINQUE (FINLÂNDIA)Em quatro das cinco edições realizadas até hoje da principal avaliação mundial de educação, o Pisa, a Finlândia ficou entre os três primeiros lugares. No exame mais recente, de 2012, porém, o país caiu para a 12ª posição.
    O Pisa é aplicado a cada três anos e avalia estudantes de 15 anos em matemática, ciências e leitura. O Brasil ocupou o 58º lugar entre os 65 países que fizeram a prova mais recente.
    Para a chefe do desenvolvimento curricular do Ministério da Educação do país, Irmeli Halinen, a queda no Pisa é resultado de diversos fatores, entre eles o desenvolvimento dos outros países, mudanças culturais na Finlândia, que tem se tornado uma sociedade menos homogênea, e cortes de verba.
    Ela admite que o resultado preocupou, mas diz que não foi o motivo para a alteração no currículo.
    MODELO
    A Finlândia recebe a atenção de educadores de todo o mundo por apresentar um sistema educacional que dá mais autonomia ao professor e dá pouca ênfase a provas.
    As escolas do país são gratuitas. Mesmo as particulares, que somam 2%, são subsidiadas pelo governo e não têm autorização para cobrar mensalidade dos alunos.

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